Título: Defasagem é real, mas ser ministro vale, sim
Autor: Maciel, Alice; Souto, Isabella; Jeronimo, Josie
Fonte: Correio Braziliense, 13/11/2010, Política, p. 4

Especialistas confirmam que o salário dos titulares da Esplanada fica distante do praticado no mercado, mas a gestão "vitamina" o currículo Citar o critério da remuneração do mercado para medir a defasagem dos salários dos ministros, como fez a presidente eleita, Dilma Rousseff, escapa da realidade do Brasil e de muitos países do mundo. O governo precisaria conceder 600% de reajuste para chegar perto do que a iniciativa privada paga. Comandantes de empresas com faturamento em torno de R$ 100 milhões anuais ¿ montante muito inferior ao orçamento dos ministérios, que alcançam cifras bilionárias ¿ têm salários que ultrapassam a fronteira dos R$ 60 mil.

Profissionais com o perfil técnico de mercado apontado por Dilma como os ministeriáveis ideais ganham pelo menos R$ 500 por hora trabalhada quando atuam como consultores de grandes empresas, segundo tabela remuneratória do Instituto Brasileiro dos Consultores de Organizações (IBCO). De acordo com o consultor Orlando Pavani, diretor executivo da Gauss Consultores Associados, apesar de os salários de ministros serem menores do que os pagos por grandes empresas, a passagem pelo Executivo federal pode trazer dividendos. ¿Uma pessoa que tem experiência de uma pasta da Esplanada ganha o dobro ou o triplo de um valor-hora que ela cobrava antes¿, afirma Pavani.

O senador e ex-ministro da Educação Cristovam Buarque (PDT-DF) faz coro com o especialista e afirma que a experiência ministerial é um ¿investimento¿ no currículo. ¿Passar pelo governo é um investimento para outras alternativas quando sai de lá. Tem que ter um salário decente, mas não é o do mercado¿. O ex-ministro discorda da afirmação de Dilma e diz que a atuação na Esplanada tem inspiração patriótica e de prestação de serviço à sociedade. ¿Ninguém é ministro pelo salário, ninguém é presidente pelo salário. O quadro do Estado é diferente. Alguns setores têm que concorrer com o mercado. No caso de ministro, senador, político, não é a concorrência do mercado que vai justificar. É uma questão de patriotismo, não de profissão.¿

Mundo afora Enquanto os ministros brasileiros podem assumir o cargo em 1º de janeiro do ano que vem com um aumento salarial, em alguns países europeus os auxiliares dos presidentes sofrerão cortes no contracheque. É o caso de Espanha, Itália e Portugal, que já anunciaram redução de custos para conter a crise que estão vivendo.

Convertido em real, os ministros italianos recebiam até maio deste ano entre R$ 17,7 mil e R$ 25,5 mil mensais ¿ valores que tiveram corte entre 10% e 15%. Na Espanha, a tesoura pegou 15% dos vencimentos, enquanto Portugal adotou contenção de gastos de 5% no salário de ministros e funcionários do alto escalão do governo. Mais ¿afortunados¿, os franceses não podem se queixar. O salário deles chega a R$ 33 mil por mês, ou 14 mil euros.

Na Coreia do Sul, a presidente eleita, Dilma Rousseff, alegou que os atuais R$ 10.748,43 pagos aos ministros brasileiros estão tão defasados em relação ao mercado que, sem um aumento salarial no Executivo, ¿não vamos ter ministros no Brasil¿. Por ¿pior¿ que seja o vencimento deles, em alguns lugares os auxiliares presidenciais recebem ainda menos.

No vizinho Uruguai, os 12 auxiliares de José Mujica recebem 82.944,87 pesos ¿ o equivalente a R$ 7.297. O presidente também acha que eles ganham pouco e defende um reajuste de 31,5% nos contracheques a partir de janeiro.

Na Polônia, distância maior » Na Polônia, os ministros recebem abaixo do que é pago aos brasileiros. Graças a uma reajuste concedido em 23 de março, eles passaram a ter vencimento de 14 mil zlotys, que convertidos em reais equivalem a exatos R$ 8,75 mil mensais. Lá, eles ainda podem ter outro emprego para complementar a renda. Dependendo do novo contracheque dos ministros brasileiros, eles ganharão mais que o presidente e o primeiro-ministro polonês, que recebem 20 mil zlotys, ou R$ 12,5 mil.