Título: Deflagrada briga no DEM pela Presidência do partido
Autor: Silveira, Igor
Fonte: Correio Braziliense, 13/11/2010, Política, p. 8

Liderados por Kassab, integrantes da legenda querem montar uma chapa para evitar que Rodrigo Maia fique no comando por mais um ano

A crise interna do Democratas caminha para capítulos cada vez mais agressivos e os últimos acontecimentos com integrantes da legenda apontam que a novela está longe de um fim positivo para a sigla. Na quinta-feira, no apartamento do prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, a ala liderada pelo ex-senador Jorge Bornhausen (SC) e pela senadora Kátia Abreu decidiu montar uma chapa para tentar, na convenção do partido, em dezembro, impedir que o atual presidente do DEM, o deputado federal Rodrigo Maia (RJ), permaneça no cargo por mais um ano.

A reunião na capital paulista e outras decisões tomadas nos últimos dias ¿ como encontros com lideranças de outros partidos para uma possível fusão entre o DEM e o PMDB ¿ sem a presença de integrantes da Executiva Nacional da legenda deixaram políticos do Democratas extremamente irritados. O deputado federal ACM Neto (BA), um dos principais membros da sigla, considera que a discussão, da maneira que tem sido feita, enfraquece o Democratas.

¿Fomos eleitos para ser oposição e não podemos quebrar o pacto com o eleitor. Qualquer movimento no sentido da fusão significa terceirizar o mandato. Lamento que essas discussões estejam acontecendo apressadamente e pela imprensa. Esse assodamento é prejudicial. Não adianta pensar que duas ou três pessoas vão decidir por todo o partido. O Democratas não tem gordura para queimar. Está tudo errado¿, sentenciou Neto.

Para o deputado Ronaldo Caiado (GO), que anunciou guerra a Kassab publicamente por meio da rede de microblogs Twitter, o plano de Kassab é tomar o comando do partido para convocar uma convenção nacional e decidir pela fusão do Democratas com outra legenda. Segundo ele, decisões importantes sobre a legenda têm sido tomadas, inclusive sem a participação do presidente Rodrigo Maia. Para ter um controle maior sobre a sigla em São Paulo, explica Caiado, não há um diretório regional no estado, somente uma ¿comissão provisória¿.

¿O que eles defendem internamente é indefensável publicamente. O discurso de Jorge Bornhausen afirmando que não refuga nada é decadente. O apartamento de Kassab transformou-se no lugar onde as decisões mais importantes do partido são tomadas por um grupo de três ou quatro pessoas. Vou reclamar na próxima reunião de bancada do Democratas porque não estamos sendo informados de muitas coisas que acontecem¿, critica Caiado. ¿O insucesso do Democratas nestas eleições não foi culpa de Rodrigo Maia, mas da fatura eleitoral de Kassab¿, completa.

A turbulência dentro do Democratas deve continuar enquanto Kassab não tiver a certeza de que vai disputar o governo de São Paulo em 2014. Segundo informações de pessoas ligadas à legenda, não há reunião marcada entre os membros do DEM nos próximos dias e, por isso, o bate-boca deve continuar por mais um tempo.

Democratas em 2011

Dois governadores Sete senadores Quarenta e três deputados federais Um prefeito de capital

Memória Uma história de mudanças

¿Que o partido precisa de uma renovação, é inegável.¿ A frase é do deputado federal ACM Neto (BA) e dá uma indicação de que o partido passará por mudanças em breve. Esse processo dentro da sigla, no entanto, não é novidade. Em 2005, os integrantes da legenda decidiram ¿refundar¿ o DEM. A parte da reforma que mais chamou a atenção foi a troca do nome de Partido da Frente Liberal (PFL) para Democratas.

Depois de perder corpo com a vitória, em 2002, do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o DEM se colocou, pela primeira vez na sua história, como oposição. Muitos consideravam que o então nome não gerava simpatia na população e, por isso, decidiram pelo novo. Em 2007, o partido sacramentou a ¿refundação¿ com a saída do ex-senador Jorge Bornhausen da Presidência da sigla e com a entrada do deputado federal Rodrigo Maia (RJ).