Título: Bancos de investimento farão mais ajustes
Autor: Schäfer , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2012, Finanças, p. C12

Nos últimos dois anos, os bancos de investimento tentaram, em grande medida, fazer frente à queda vertical dos negócios e à enxurrada de regulamentação, mutilante em termos de lucros, com uma tentativa não direcionada de fechar postos de trabalho e capacidade em todos os segmentos de negócios.

O número de empregos em atendimento direto ao público dos 10 maiores bancos de investimento caiu 9% desde 2010, segundo dados do grupo de pesquisa Coalition.

Mas, depois de um segundo trimestre tenebroso e de um terceiro igualmente lento, em que algumas áreas de sucesso como a emissão de bônus corporativos pouco provavelmente compensarão a escassez de negócios, de transações e de atividades dos mercados de capitais em outros países, os executivos dos bancos começaram a entender que serão necessárias medidas muito mais arrojadas.

O panorama mostra-se especialmente sombrio na Europa. "Todos os modelos de negócios estão sofrendo forte pressão e quase todo mundo está perdendo dinheiro na área de banco de investimento na Europa.

Já houve uma redução significativa da capacidade, mas todo mundo está reexaminando as estruturas de custos", diz o diretor de banco de investimentos europeu de um grande banco mundial.

Os bancos estão sofrendo de problemas cíclicos como economia fraca, queda do nível de atividade em transações, aumento dos custos de captação e um ambiente de juros baixos. Todos esses fatores agravam as dificuldades estruturais decorrentes do enrijecimento da regulamentação. Ao mesmo tempo, a redução do quadro de funcionários pelo desgaste natural está em patamares recordes de baixa apesar da queda dos bônus, uma vez que os altos executivos dos bancos se aferram aos seus empregos sabendo que não há muitas outras oportunidades por aproveitar.

Após anos de cortes em todas as linhas de negócios, os bancos estão retomando uma medida mais drástica: retirar-se definitivamente de determinadas linhas de negócios. Essa tendência é mais notória na japonesa Nomura, que vai fechar pelo várias centenas de postos de trabalho nas divisões de transações com ações e banco de investimentos de seu problemático banco de atacado no exterior, como parte de sua campanha de US$ 1 bilhão em redução de custos. A iniciativa permitirá à empresa continuar a investir em áreas percebidas como seus pontos fortes, como renda fixa, assessoria a "financial sponsors" (private equity), fusões e aquisições transnacionais ou financiamento alavancado.

Outros bancos, como o Royal Bank of Scotland (RBS) e o UBS, foram obrigados, por fracassos anteriores, a serem pioneiros ainda mais precoces dessa tendência.

O RBS, pressionado pelo governo a diminuir seu balanço, fechou ou vendeu rapidamente este ano suas divisões de corretagem, de transações com ações em bolsa e de operações em mercados de capitais, e se concentrou, em vez disso, em áreas como renda fixa e gerenciamento de risco.

O UBS, o maior banco da Suíça, trilhou caminho semelhante, ao fechar, em nove meses, mais de 1,4 mil postos de trabalho de seu total de empregos de quase 18 mil no banco de investimentos, ao sair de áreas de atuação como transações proprietárias com ações e de produtos estruturados complexos e aproximou a divisão de sua administração de grandes fortunas, área na qual é líder de mercado. A instituição ainda tem quase 600 postos de trabalho por fechar segundo as regras de seu atual programa de reestruturação, mas pessoas familiarizadas com a empresa dizem que está sendo previsto um número ainda maior de cortes.

No mesmo sentido, o Credit Suisse, que pretende baixar os custos em mais 1 bilhão de francos suíços (US$ 1 bilhão), numa operação que poderá levar ao fechamento de não menos que 1 mil vagas em todo o grupo - a maioria das quais no banco de investimento -, está se retirando do setor de títulos comerciais lastreados por contratos de crédito imobiliário e de securitizações de classificação de risco mais baixa, entre outras áreas de atuação. Por seu lado, os bancos franceses BNP Paribas e Société Générale desativaram negócios financiados em dólar, como o financiamento voltado para os setores de energia e naval.

Com muitos desses cortes limitados a aspectos secundários, a maioria dos bancos manteve a ampla linha de produtos. No entanto, especialistas do setor bancário dizem que mesmo bancos de investimento de primeira linha começam agora a pensar em se concentrar em seus principais negócios. "O que veremos é que os bancos não vão fechar áreas de atuação de imediato, mas deixarão de investir nelas e sairão delas no longo prazo", diz Jonathan Eckman, um dos sócios da empresa de recrutamento de executivos de banco de investimento Aubreck Leung.

Albert Laverge, diretor do escritório de banco de investimento mundial da Egon Zehnder, diz: "uma série de bancos avaliou no decorrer do segundo e do terceiro trimestres em que áreas devem reduzir a ênfase e em que outras querem continuar a investir".

Um dos bancos que deverão revelar medidas desse gênero, segundo se prevê, é o Deutsche Bank, cujos novos coprincipais executivos, Anshu Jain e Jürgen Fitschen, vão apresentar aos investidores uma análise estratégica na semana que vem. Eles deverão esclarecer os detalhes das áreas de banco de investimento a serem priorizadas pelo Deutsche, em medidas que deverão aumentar o recentemente anunciado total de 1,5 mil postos de trabalho a serem cortados.

Analistas também preveem que o novo principal executivo do Barclays, Antony Jenkins, ele mesmo um alto executivo de banco de varejo e corporativo, remodele o banco de investimentos do grupo reduzindo alguns de seus departamentos asiáticos de transações com ações.

Embora mudanças desse tipo restrinjam a capacidade, os analistas argumentam que elas estão longe de serem suficientes. Um dos problemas provém do enrijecimento das normas de capitalização promovido por Basileia 3, que fez com que todos os bancos superalocassem dinheiro e pessoal em divisões menos intensivas em capital, como assessoria em fusões e aquisições e em transações com ações - mercados que passam por baixas cíclicas, e com relação aos quais alguns argumentam que essas quedas de volumes resultam de uma mudança estrutural que chegou para ficar. No primeiro semestre, os níveis dos quadros de funcionários em assessoria e mercados e de capitais eram 4% superiores aos de 2008 nos dez maiores bancos de investimento, segundo a Coalition.

"Os bancos de investimento têm custos demais em áreas de negócios de baixa receita. Esses bancos têm um número de pessoas excessivamente grande vendendo produtos que os clientes não valorizam o suficiente para bancar", escreveu Matt Spick, do Deutsche Bank, em nota recente. Os executivos dos bancos esperam que a próxima rodada de cortes seja mais estratégica.