Título: Analistas divergem sobre novo PIB potencial chinês
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Fonte: Valor Econômico, 11/09/2012, Internacional, p. A13

A desaceleração econômica da China desencadeou uma discussão sobre uma questão enganosamente simples: qual é a "nova taxa normal" de crescimento do país?

Nas últimas três décadas, empresas e investidores se acostumaram a um crescimento anual de 10%. Houve períodos de superaquecimento e de incertezas, mas a economia sempre gravitou em torno dos 10%. Analistas acreditam que os dias de crescimento de dois dígitos são coisa do passado. Mas não há um consenso sobre a nova tendência de crescimento da economia chinesa, com as estimativas variando de 7% a 9,5%.

Essa divergência pode parecer trivial - afinal, mesmo com crescimento de 7%, a China superaria facilmente quase todos os países do mundo. Mas a diferença é na verdade monumental. A taxa de crescimento mais acelerada deixaria a China cerca de US$ 3 trilhões mais rica em uma década e manteria os preços globais das commodities maiores por muito mais tempo.

Qu Hongbin, economista do HSBC, é um otimista declarado. "A economia da China está crescendo menos, mas isso é principalmente resultado de fatores cíclicos, como o enfraquecimento da demanda externa e o impacto retardado de medidas de aperto anteriores", escreveu ele em relatório recente.

Em seu ponto de vista, o governo precisa adotar medidas contra-cíclicas - um maior gasto fiscal e um maior afrouxamento monetário - para estimular o PIB. A batelada mais recente de dados vem levando analistas a concluir que o crescimento no terceiro trimestre ficará próximo de 7%. Em agosto, a produção industrial caiu para o menor nível desde maio de 2009.

Mas o governo aprovou uma série de grandes investimentos, incluindo 25 novos projetos ferroviários urbanos, na semana passada que poderão dar um empurrão no resto do ano.

Muitos analistas são contra uma nova rodada de gastos pesados do governo. Uma das vozes mais estridentes entre os pessimistas é Andy Xie, economista independente. Ele acredita que a China chegou a um ponto de virada estrutural, em que as ineficiências de um modelo de crescimento liderado pelo governo estão afetando a economia.

"Como a China exauriu seu excedente de mão-de-obra e as economias ocidentais estão em um declínio secular, as exportações não vão crescer mais para cobrir as ineficiências", afirma ele.

No curto prazo, analistas estão usando números diferentes para afirmar que a economia chinesa, embora em desaceleração, está tendo um desempenho de acordo com seu potencial; ou, pelo contrário, afirmar que a desaceleração a colocou abaixo de seu potencial.

Helen Qiao, analista do Morgan Stanley, diz que uma série de indicadores, como a queda do lucro das empresas e a grande queda da inflação, apontam para um crescimento abaixo do potencial. "Esses são sinais de um hiato de produção negativo, que pede um ajuste de política", escreveu ela. "O nível potencial de crescimento continua em torno de 8,5% para 2012."

O conceito de crescimento potencial se refere à taxa de expansão que seja a certa para uma economia: nem tão acelerada a ponto de provocar inflação elevada, nem tão lenta a ponto de levar a uma taxa de desemprego elevada.

É pela última medida, o desemprego, que muitos outros analistas acreditam que a desaceleração da economia chinesa é apenas natural. O mercado de trabalho começou a ser pressionado, mas a perda de empregos não chega nem perto da de 2008, no auge da crise financeira mundial. Isso sugere que a economia simplesmente não precisa crescer com tanta rapidez como há poucos anos, para gerar empregos para todos aqueles que estão trocando as zonas rurais pelas cidades.

"Não é como se houvesse um grande Armagedon no nível de emprego do outro lado da esquina, se houver uma desaceleração do crescimento", diz Arthur Kroeber, diretor-gerente da Dragonomics, uma empresa de pesquisas.

A mudança demográfica é o principal fator por trás disso. A população chinesa em idade de trabalho cresceu muito mais lentamente nos últimos cinco anos e deverá atingir um pico em 2015.

Mas o crescimento potencial não é determinado apenas pela demografia. Ele envolve também a produtividade, isto é, o quanto cada trabalhador está na verdade produzindo.

Daí o foco da China no processo de sucessão governamental, que acontece uma vez a cada dez anos e deverá ocorrer no mês que vem. O caminho futuro do crescimento do país, longe de estar definido, será moldado pelas escolhas políticas de Pequim.

Conforme alerta Qu, do HSBC, o caso mais otimista é baseado em uma grande suposição: a de que a China dará prosseguimento em sua marcha de 30 anos rumo a uma economia de mercado (ou próxima disso). "No sucesso dessas reformas está a chave para o crescimento sustentado da produtividade", diz ele.