Título: Ceitec finaliza primeiros chips 100% brasileiros
Autor: Bueno, Sérgio
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2006, Empresas, p. B2

Seis meses antes do prazo previsto para o fim das obras das instalações próprias, em Porto Alegre, o Centro de Excelência em Tecnologia Eletrônica Avançada (Ceitec) já concluiu e enviou para prototipagem seus dois primeiros circuitos integrados, desenvolvidos para as empresas gaúchas Altus e Innalogics. Os protótipos serão fabricados pela unidade da alemã X-FAB Semicondutores na Inglaterra, que, depois dos testes finais no Brasil, deverá iniciar a produção em série no início de 2007.

Segundo o diretor presidente do Ceitec, Sérgio Dias, os dois chips serão os primeiros circuitos integrados 100% brasileiros produzidos em escala comercial. Afora o centro gaúcho e alguns trabalhos acadêmicos de universidades e institutos de pesquisa, apenas a americana Freescale (até 2004 uma divisão da Motorola) desenvolve semicondutores no Brasil, explica o executivo. O circuito integrado da Altus será utilizado para automação de plataformas de petróleo da Petrobras e o da Innalogics, em sistemas de identificação por radiofreqüência, as chamadas "etiquetas inteligentes".

O Ceitec é o mais adiantado centro previsto no programa CI-Brasil do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), que está implantando unidades semelhantes em São Paulo, Campinas, Recife e Manaus. As obras físicas iniciaram em abril de 2005 e exigirão investimentos de R$ 185 milhões, sendo 80% repassados pelo ministério, além de recursos da Finep, da área doada pela prefeitura, dos equipamentos cedidos pela Motorola (ainda em 2001) e do projeto básico de engenharia e da rede elétrica fornecidos pelo governo do Estado.

O centro opera provisoriamente em prédios cedidos pela Pontifícia Universidade Católica (PUC-RS) e pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mas quando as instalações próprias estiverem concluídas, em abril de 2007, abrigarão o centro de design e uma planta industrial que até setembro começará a produzir chips de 0,5 mícron.

Seis meses depois poderão ser fabricados circuitos com 0,35 mícron, iguais aos desenvolvidos para a Altus e a Innalogics e que suprem 85% da demanda da indústria nacional de eletroeletrônicos, explica Dias. Em mais um ou dois anos, com novos equipamentos, o Ceitec pode chegar aos chips de 0,25 ou 0,18 (os mais avançados no mundo têm hoje 0,09 mícron), mas isto dependerá também da demanda do mercado.

Os dois circuitos enviados este mês para prototipagem marcam também a primeira etapa da busca da auto-sustentação financeira da instituição, explica Dias. Os primeiros contratos não prevêem a cobrança de royalties sobre a venda dos produtos finais, mas este é um modelo que também deve ser utilizado no futuro, assim como a participação em projetos globais em parceria com outras empresas e instituições do setor.

O desenvolvimento do chip para a Altus custou R$ 800 mil e o centro empatou receitas originárias da Finep e das contrapartidas da empresa. Já o circuito desenhado para a Innalogics custou cerca de R$ 140 mil e o Ceitec terá direito de reutilizar a tecnologia desenvolvida, relata o diretor presidente. Conforme a gerente de design, Edelweis Ritt, ela pode ser utilizada em uma "enorme gama" de aplicações, desde praças de pedágio automatizadas, controle e movimentação de estoques e rastreabilidade de animais.

Segundo Dias, já há um projeto nesta linha sendo discutido com a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), incluindo o desenvolvimento de leitores dos chips, softwares e outros aplicativos específicos para o monitoramento de rebanhos. O Ceitec e a Embrapa já cogitam exportar os produtos e até o início de novembro deverá ser encaminha uma consulta prévia para financiamento ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Os valores ainda não estão fechados.

O centro também faz parte do projeto da RF Telavo, de São Paulo, para a produção de transmissores para televisão digital. A empresa já encaminhou pedido de financiamento de R$ 15 milhões para o BNDES e o Ceitec receberá entre R$ 2 milhões e R$ 2,5 milhões para desenvolver o chip que será integrado aos equipamentos. Outro projeto que começa a ser discutido é o desenvolvimento de semicondutores destinados à transmissão digital de rádio, em parceria com a Freescale e com o Genius Instituto de Tecnologia, da Gradiente.

De acordo com Dias, faltam cerca de R$ 30 milhões para a conclusão das obras do Ceitec e a instituição está tentando garantir com o MCT o repasse de R$ 11 milhões ainda este ano. "Aí restariam R$ 19 milhões para o início de 2007 e mais R$ 20 milhões para colocar os equipamentos em funcionamento", afirma. O custo anual de operação ficará entre R$ 9 milhões e R$ 12 milhões e o centro está estudando a alteração da figura jurídica, de associação civil sem fins lucrativos para organização social ou fundação, para assegurar o fluxo regular de recursos federais.