Título: Mais brilho para os dividendos
Autor: Camba, Daniele
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2006, EU & Investimentos, p. D1

O processo de queda da taxa de juros - que deve cair ainda mais na reunião do Copom que começa hoje - está fazendo com que as ações de companhias boas pagadoras de dividendos ganhem ainda mais importância. As ações indicadas pelas oito corretoras para a Carteira Valor de Dividendos que vale pelos próximos três meses oferecem só via dividendos um retorno sobre o valor aplicado de até 14% ao ano (o "dividend yield"). Esse percentual, por exemplo, já é maior que os ganhos dos contratos de juros de um ano, hoje em 13,30%. Considerando um imposto de renda de 20% pago nas aplicações de renda fixa para quem ficar até um ano, o retorno líquido desses contratos cai para 10,64% ao ano. A percepção é de que, com ganhos potenciais maiores, apenas considerando os dividendos, esses papéis podem substituir as carteiras de renda fixa no portfólio dos investidores.

Um "dividend yield" entre 10% e 15% podia não ser tão atraente quando a taxa Selic estava em 20% ao ano, mas com os juros caminhando para baixo dos 14%, o retorno só com dividendos passa a ser representativo, diz Gilberto de Souza, chefe de análise da BES Securities. Esse ganho pode ser considerado praticamente uma renda fixa, já que é uma relação entre o dividendo pago pela companhia e o seu valor de mercado e, portanto, não oscila tanto quanto o preço das ações em bolsa.

A característica híbrida dessas ações é ideal para os investidores que, com o retorno cadente da renda fixa, estão aos poucos experimentando aplicações mais arriscadas, diz o chefe de análise da corretora Geração Futuro, Wagner Salaverry. "É uma excelente opção para investir na renda variável, mas com um pé na renda fixa."

Para os clientes que estão ingressando na bolsa, a Ágora procura mostrar a possibilidade de ter um ganho fixo como um importante chamariz, afirma Marco Melo, chefe de análise da corretora.

As ações recomendadas pelas corretoras para a Carteira Valor de Dividendos dos próximos três meses possuem um "dividend yield" médio de 10%. Já o Índice Bovespa como um todo deverá pagar em 2007, em média, 6% sob a forma de dividendos. Apesar de ser menor que o da Carteira Valor, é o maior percentual na história da bolsa, avalia Melo, da Ágora. Historicamente, o Ibovespa possui um "dividend yield" entre 4% e 4,5%.

As empresas estão mais preocupadas com seus acionistas e vêm distribuindo dividendos crescentes nos últimos anos, diz Melo. Pela Lei das Sociedades Anônimas (S.A.), as companhias precisam distribuir pelo menos 25% do lucro líquido.

Além da governança corporativa, ele lembra que as companhias estão bancando seus projetos de investimentos com recursos de terceiros, o que faz com que sobre mais caixa para distribuir. Com a queda da taxa de juros e as perspectivas de um crescimento maior da economia em 2007, os lucros das companhias devem crescer, engordando a fatia dos acionistas.

Se essas ações pagam dividendos proporcionalmente maiores que os da bolsa, de forma geral, também levam a vantagem de ser bem menos voláteis. Como são empresas mais maduras - que já passaram pela fase de crescer e investir muito -, seus resultados são mais previsíveis, o que se reflete no comportamento das ações. Também são papéis de menor liquidez, contribuindo para um sobe-e-desce bem menor.

Para se ter uma idéia, quase todas as ações recomendadas pelas corretoras para a carteira de dividendos oscilam menos que o Ibovespa. Isso ocorre na alegria e na tristeza: caem menos nos momentos de queda do mercado acionário, mas também sobem menos nas fases de valorização do índice. As duas edições anteriores da Carteira Valor de Dividendos ilustram bem essa situação. Na primeira, (de 20 de abril a 14 de julho) enquanto o Ibovespa caiu 11,13%, a carteira perdeu 6,48%. Já na segunda (de 14 de julho até ontem), o Ibovespa subiu 10,98% e o portfólio sugerido ganhou 10,11%.

Neste momento, em que ainda se espera uma boa dose de volatilidade - por conta da disputa eleitoral no Brasil e as indefinições sobre como será o nível de desaceleração da economia americana e os reflexos no resto do mundo -, uma carteira voltada para os papéis de dividendos pode ser um bom porto seguro. "Os próximos meses não devem ser uma calmaria, por isso vale mais a pena investir em empresas com maior previsibilidade de caixa do que naquelas que dependem muito mais da valorização em bolsa", diz a chefe de análise da Fator Corretora, Lika Takahashi. Ela lembra que os papéis de setores como telefonia, energia elétrica, bancos e empresa de concessão (rodovias, saneamento básico) se encaixam bem nesse tipo de perfil.

Para esta terceira edição da Carteira Valor de Dividendos, as ações preferenciais (PN, sem direito a voto) da Telesp são, de longe, as mais indicadas, com recomendação de seis das oito corretoras. A companhia já fez os investimentos que precisava, não tem perspectivas de grandes crescimentos e nos últimos anos vem distribuindo mais do que 100% do lucro. Em seguida estão as ações PN da Cemig e da Metalúrgica Gerdau, com quatro recomendações cada. Os papéis de siderúrgicas são uma boa forma de aproveitar os dividendos e ao mesmo tempo estar aplicado em papéis com bom potencial de valorização em bolsa, diz o analista da Geração, Luiz Alberto Binz. "As ações de aços planos vão se beneficiar da melhora dos preço da commodity no mercado internacional e as de aços longos com o crescimento da economia brasileira", diz. Além de Metalúrgica Gerdau, as ordinárias (ON, com direito a voto) da Cia. Siderúrgica Nacional (CSN) ganharam três recomendações.