Título: Investidores migram de DI para opções de maior risco
Autor: Fariello, Danilo
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2006, EU & Investimentos, p. D2

A expectativa de queda da taxa básica de juros na reunião da Comitê de Política Monetária (Copom), que começa hoje, já provoca movimentações no setor de fundos de investimento. Segundo dados do site Fortuna, somente neste mês, até o dia 11, mais de R$ 1 bilhão deixou os fundos DI. Poucos investidores dessas carteiras mais conservadoras, no entanto, estão deixando o setor de fundos. A maioria busca aplicações um pouco mais arriscadas para obter melhores retornos.

Motivados pelo consenso de que o Banco Central deverá manter o ritmo de redução da taxa Selic e pela maior competitividade entre aplicações financeiras proporcionada pela conta-investimento (que isentou transferências da CPMF), os investidores que são mais bem informados estão buscando antecipar as tendências do mercado para conseguir melhores chances de sucesso, diz Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna.

Muitas das carteiras de varejo, com altas taxas de administração, têm perdido em rentabilidade para a caderneta de poupança ou para CDBs, lembra D'Agosto. Com isso, parte dos investidores tem procurado aplicações ligeiramente mais agressivas, com algum diferencial de gestão frente aos fundos DI. Enquanto os DI registram ingresso de R$ 1,758 bilhão, os multimercados apresentam captação de R$ 15,103 bilhões - a maior entre as categorias de fundos, segundo dados do Fortuna.

Nas últimas semanas, por exemplo, o Santander Banespa captou mais de R$ 1 bilhão de 25 mil investidores no seu fundo Multi Retorno Mais 4, um multimercado acoplado a uma apólice de seguros que garante um retorno mínimo equivalente à rentabilidade da caderneta de poupança, mas que corre mais riscos que o DI. Segundo a Santander Banespa Asset Management, nos últimos três anos, período em que o juro básico foi reduzido, o segmento de multimercado é o que mais cresceu entre os clientes de varejo, tendo saído de 2,41% de participação em 2003 para mais de 4,56% em 2006. A taxa de crescimento dos multimercados de varejo no período foi três vezes maior que a do mercado de renda fixa, informa a gestora.

De acordo com dados do Fortuna, os fundos multimercados populares - aqueles com mais de mil cotistas, aplicação mínima inicial de até R$ 50 mil e criados até o fim do ano passado - captaram R$ 2,6 bilhões nos últimos 12 meses, até o dia 11. No período, em média, o risco maior bancou o retorno. Esses fundos apresentaram ganho médio de 16,54%, maior do que o Certificado de Depósito Interfinanceiro (CDI), que subiu 16,35% e o Ibovespa, com alta de 15,41% no período. Também nos últimos 12 meses, os fundos de ações populares - com os mesmos critérios dos multimercados populares - apresentaram captação de R$ 2,3 bilhões, indicando também a tendência de maior procura por risco. Nesse intervalo, os fundos DI apresentam resgates líquidos de R$ 1,3 bilhão.

D'Agosto observa, porém, que nesses grupos de fundos de ações e multimercados populares há uma elevada diferença entre as rentabilidades apresentadas pelas carteiras. Portanto, é preciso ter cuidado ao escolhê-los e verificar quais foram as qualidades que levaram algum determinado fundo popular a se destacar, e avaliar a probabilidade de seu bom desempenho voltar a se repetir no futuro, diz ele. Entre os fundos de ações, nos últimos 12 meses, as carteiras populares apresentaram desempenho entre perda de 4,98% e ganho de 46,04%. Os fundos de ações populares que mais captaram, segundo Fortuna, foram as carteiras formadas com recursos próprios de ações da Petrobras.

O setor de fundos de investimento acumula no ano, até dia 11, captação de R$ 54,852 bilhões, dos quais R$ 30,225 bilhões vieram do setor de atacado e R$ 18,044 bilhões do varejo. Somente em outubro, o ingresso de recursos soma R$ 875 milhões. Entre as instituições que mais captaram no ano, a Caixa Econômica Federal aparece em primeiro lugar, seguida pelo Banco do Brasil e Citibank.