Título: Mantega: dólar dá prejuízo às reservas
Autor: Verdini, Liana
Fonte: Correio Braziliense, 13/11/2010, Economia, p. 15

Ministro da Fazenda diz, em Seul, que hoje não é rentável aplicar a totalidade dos recursos na moeda norte-americana

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, que acompanha o presidente Luiz Inácio Lula da Silva na reunião do G-20, voltou a defender a substituição do dólar por uma cesta de moedas para servir como referência mundial para as reservas e as transações internacionais. Para ele, nesse momento de fragilidade da divisa norte-americana, manter reservas em dólar não é uma operação lucrativa. O presidente do Banco Central brasileiro, Henrique Meirelles, no entanto, vê essa proposta com ressalva.

¿A diversificação de moedas é possível. Mas não é fácil porque o comércio está acostumado com o dólar¿, avaliou Mantega. ¿A tendência geral é do multilateralismo. Antigamente, quem mandava na economia mundial eram dois ou três países, mas hoje há uma mudança. Agora não é mais assim¿, acrescentou.

O ministro considerou que hoje não é nada rentável aplicar os recursos das reservas internacionais em dólar, no entanto, não vê uma solução rápida para a diversificação da moeda-referência. ¿A tendência natural é que, à medida que surjam outras economias, ocorra um sistema múltiplo de moedas. Mas não é uma coisa fácil nem rápida de se fazer¿, disse ele. E acrescentou: ¿Mas manter a reserva em dólar dá prejuízo¿.

Apesar das críticas do ministro da Fazenda, o Banco Central do Brasil, que faz a gestão das reservas internacionais do país, pondera que as economias brasileiras estão em dólares porque a dívida estrangeira também está nessa moeda e, argumenta o BC, um descasamento poderia comprometer o gerenciamento dessas contas.

Custo elevado Na última posição divulgada pela autoridade monetária, na quinta-feira, 11 de novembro, o volume das reservas era de US$ 286 bilhões. Pelos cálculos de dois economistas que já trabalharam no BC ¿ Affonso Celso Pastore e Alexandre Schwartsman ¿ a manutenção das reservas internacionais acima de US$ 280 bilhões custa ao contribuinte brasileiro cerca de R$ 45 bilhões ao ano, o equivalente a 1,5% do Produto Interno Bruto (PIB).

Isso porque o BC entra no mercado comprando os dólares em excesso na economia. Como o país não tem orçamento específico para essa operação, emite títulos públicos para captar recursos. Esses títulos pagam ao investidor a taxa Selic, que está em 10,75% ao ano. E usa os dólares adquiridos para comprar títulos públicos dos Estados Unidos, recebendo taxas próximas de zero. Essa diferença de juros ¿ o que paga internamente e o recebe de fora ¿ é o custo das reservas.

Mas nas contas do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, durante audiência pública no Congresso Nacional na quinta-feira, a manutenção das reservas internacionais no período de 2004 a 2010 representou para o Brasil um custo de R$ 68 bilhões.

Meirelles explicou que o acúmulo de reservas internacionais em cenário de crise traz benefícios ao país de R$ 600 bilhões, ou 17,5% do Produto Interno Bruto (PIB), por garantir a estabilidade econômica. Sem essas reservas, o Brasil estaria vulnerável e não conseguiria manter o atual nível de crescimento econômico.

E EU COM ISSO Reserva internacional é o volume de dólares que o país tem em caixa e que são aplicados no mercado financeiro mundial. A grande vantagem de ter esses recursos à disposição é que isso dá garantias contra eventuais crises no mercado internacional, como ocorreu em 1998 com a crise da Rússia e no ano passado com a crise financeira internacional. Com os dólares na mão, o país tem mais agilidade para combater, por exemplo, movimentos especulativos com sua moeda e para financiar os exportadores. Durante a crise, o BC chegou a vender cerca de US$ 14,5 bilhões para conter a subida do dólar, e também utilizou o colchão de recursos para fornecer linhas de crédito para os exportadores brasileiros.