Título: Fiesp acena com acordos setoriais em Doha
Autor: Saccomandi, Humberto
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Brasil, p. A3

A indústria brasileira quer identificar quais ramos produtivos aceitariam selar acordos setoriais nas negociações da Rodada Doha, da Organização Mundial de Comércio (OMC). Com essa estratégia, os empresários buscam diminuir a ambição dos países ricos no corte geral das tarifas de importação, que afetariam os setores indiscriminadamente.

Essa nova postura representa a quebra de um tabu para a indústria , que sempre se posicionou contra os acordos setoriais por temer ser forçada a aceitar uma liberalização irrestrita. "Precisamos começar a desmistificar a negociação setorial", diz Carlos Cavalcanti, diretor-adjunto do departamento de comércio exterior da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp).

Os acordos setoriais podem ter três formatos: zerar as tarifas mundiais de todos os países em um segmento industrial, zerar as tarifas dos países ricos e estabelecer uma tarifa "x" para as nações em desenvolvimento, ou reduzir as tarifas de todos os países para um determinado patamar.

Alguns setores já se posicionaram a favor de negociações setoriais no Brasil. São eles: granito, vidros planos, madeira processada, gemas de pedras preciosas e minérios (ferro, zinco, cobre, etc). A Fiesp busca agora identificar o maior número possível de setores para apresentar uma lista ao governo brasileiro.

Os fabricantes de granito estão interessados em uma liberalização completa do mercado mundial, principalmente da China, maior consumidor do planeta, que cobra uma tarifa de importação de 44%. O Brasil é também o maior fornecedor de granito para os Estados Unidos, mas a cada ano é ameaçado com o fim do Sistema Geral de Preferências (SGP). Um acordo setorial pode resolver de uma vez por todas esse problema.

Nos minérios, as tarifas de importação são baixas mundialmente, entre 2% e 4%. Mesmo assim, como se tratam de grandes volumes de um produto de baixo valor agregado, essas taxas acabam se transformando em um custo expressivo. Mais uma vez uma liberalização completa do comércio mundial pode ajudar.

Cavalcanti frisa que nenhum segmento será obrigado a aceitar um acordo setorial. Ele também ressalta que um bom número dessas negociações pode ajudar a proteger outros setores que certamente serão afetados pela Rodada, já que a tendência é diminuir a ambição da fórmula que cortará as tarifas indústriais.

Os acordos setoriais serão um capítulo importante de um "position paper" em gestação na Fiesp. Segundo Rubens Barbosa, presidente do Conselho Superior de Comércio Exterior da entidade, o documento deve ser divulgado em um mês e incluirá o posicionamento não apenas da indústria, mas também da agricultura. O objetivo é indicar ao governo o que os empresários estão dispostos a conceder e o que querem em troca.