Título: G-20 sugere calendário para concluir Rodada
Autor: Saccomandi, Humberto
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Brasil, p. A3

O G-20, grupo liderado pelo Brasil, dirá hoje na Organização Mundial do Comércio (OMC) que está comprometido em alcançar um "breakthrough" o mais rápido possível na Rodada Doha e para isso espera concessões dos países industrializados. Duas semanas depois que os principais países anunciaram o relançamento da negociação global, os 150 membros da OMC vão se reunir para avaliar como avançar na direção de um acordo para a liberalização comercial.

Para o grupo, que inclui China, Índia, Argentina, Indonésia, África do Sul e outros emergentes, tudo depende essencialmente de os Estados Unidos aceitarem mais cortes nos subsídios domésticos e da União Européia e do G-10 (grupo protecionista que inclui Japão, Suíça e Coréia do Sul) concordar com redução maior nas tarifas agrícolas.

Por sua parte, o G-20 reexamina suas propostas para mostrar flexibilidade no momento de bater o martelo, o que passa pelos "produtos especiais", tema que separa exportadores e importadores no grupo. A Índia quer designar um bom número de produtos como "especiais" para cortar menos tarifa e frear importações agrícolas.

Na prática, o grupo vai sugerir hoje um calendário para concluir a negociação global. Retoma a idéia de avanço proximamente nas "conversas" que vêm ocorrendo entre o Brasil, Estados Unidos, União Européia e Índia, que "explora alternativas e procura soluções" e que deverá gradualmente incluir mais países.

Os resultados dessas "conversas" pavimentariam o caminho para um acordo sobre as "modalidades completas", que dão as grandes linhas - como fórmulas para cortar as tarifas e subsídios - do compromisso final da rodada.

Embora o G-20 admita não ser proveitoso estabelecer prazos, nota que a conclusão das modalidades até o fim de julho é essencial para fechar a rodada em dezembro. Este é o cenário otimista, que alguns países preferem continuar defendendo num contexto com sinais pouco encorajadores. O próprio G-20 apresentará suas reservas à proposta da Casa Branca para a nova lei agrícola dos Estados Unidos, notando que o volume de subsídios que distorcem o comércio mundial ainda é enorme e precisa ter cortes efetivos.

Em plena negociação, cada um embolsa o que aparece sobre a mesa e continua reclamando. Mas há quase um consenso entre países da OMC sobre a proposta da "Farm Bill" americana, que determinará os subsídios americanos pelos próximos cinco anos.

A proposta é vista como indo na boa direção, só que é amplamente insuficiente. Os EUA tratam na verdade de evitar futuras contestações. Programas de subsídios que encorajam agricultores a produzir mais, e assim derrubam os preços mundiais, irão agora para conservação e desenvolvimento rural.

Os subsídios específicos por produto persistem, como constataram os brasileiros. Na avaliação do Instituto de Estudos de Negociação Comercial Internacional (Icone), a proposta da "Farm Bill" não garante novos tetos de gastos. "Tudo dependerá do mercado. Se os EUA apresentarem qualquer movimento, será na crença de que o mercado vai ajudá-los", estimam Marcos Jank e Andre Nassar, diretores da instituição. Sem um teto "infinitamente baixo" para os subsídios por commodity, será complicado para o Brasil aceitar um acordo na OMC, segundo o ministro Celso Amorim.

O jornal "Los Angeles Times" aponta o governo do Canadá como o melhor amigo dos contribuintes americanos. Isso porque o Canadá abriu a disputa do milho, que na verdade contesta o total dos subsídios agrícolas americanos, e terá a participação ao seu lado do Brasil, UE, Austrália e Argentina. Para o jornal, essa disputa pode fazer muito para convencer os parlamentares americanos a refrearem seu desejo de subvenções.