Título: Preço chegou a R$ 115 na semana passada
Autor: Schüffner, Cláudia
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Brasil, p. A4

Ao planejar a operação do sistema interligado, o Operador Nacional do Sistema (ONS) leva em conta a oferta de energia, o consumo e as possibilidades de transmissão entre as regiões. Ao mesmo tempo, é considerado o preço da energia cobrado por usina, de modo a acionar primeiro as mais baratas (as hidrelétricas). Se essas não funcionarem na intensidade necessária (por falta de água que move as turbinas), as mais caras vão sendo acionadas, sucessivamente. Entre as térmicas, o custo variável do megawatt/ hora (MWh) varia de R$ 1.057,38 (térmica a óleo Brasília) a R$ 12,61 (Angra 2).

Sem água nos reservatórios das hidrelétricas, as térmicas são acionadas por "ordem de mérito de custo". Primeiro são acionadas as usinas a gás de ciclo combinado (que usam vapor para aumentar a produtividade das turbinas), depois as de ciclo simples, até que sejam acionadas as movidas a óleo.

Ao planejar a otimização dos recursos do sistema interligado nacional, o ONS calcula o preço da água, que é o Custo Marginal da Operação (CMO). Este serve de base para formação do Preço de Liquidação de Diferenças (PLD) no âmbito do "mercado livre", onde geradores e comercializadores vendem energia para consumidores finais. O mercado funciona à base de contratos bilaterais, que são contabilizados na Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE), que sucedeu o Mercado Atacadista de Energia (MAE). Hoje, o mercado livre responde por cerca de 20% da energia transacionada no Brasil e 50% do consumo industrial de energia.

Na semana passada, o PLD no Sudeste estava na faixa de R$ 113 a R$ 115 por MWh e as previsões são de que poderá subir para algo entre R$ 200 e R$ 350 por MWh se não chover o suficiente para aumentar o nível dos reservatórios e se as térmicas ficarem de fora do sistema. Mas esta semana eles já baixaram para R$ 81,51 e R$ 82,59 no Sudeste, Centro-Oeste, Sul e Norte. Mesmo assim, são valores acima dos verificados em 2005, quando o valor médio ficou em R$ 25 por MWh.

Na avaliação de muitos agentes do setor, a manutenção das térmicas a gás no planejamento do ONS está mascarando o preço da energia. "Em setembro, o preço subiu a ponto de mandar térmicas operarem. E ficou evidente que foram chamadas e não geraram. Não dava mais para varrer para baixo do tapete. Uma térmica contratada normalmente funciona assim: quando o sistema chega no preço adequado, ela gera. Antes disso, é mais barato comprar no (mercado) spot", explica um executivo do setor.

Se a Aneel optar pela medida mais radical poderá entrar em confronto com a Petrobras. No seu planejamento para outubro, o ONS informa que a Petrobras quer aumentar o preço da energia das térmicas Canoas, Eletrobolt, Nova Piratininga, Termomacaé, Ibirité, Fafen, Três Lagoas, Termobahia e Termorio. "Mas a Aneel determinou que tais alterações não fossem consideradas na elaboração do Programa Mensal de Operação (PMO) e em suas revisões até que ela (a Aneel) promova auditoria sobre as informações prestadas pela Petrobras", afirma o documento disponível no site do ONS.

Um executivo de uma associação do setor acha que o país vive de novo "a mentira das térmicas fantasmas". Segundo ele, "o governo e o Tolmasquim (o presidente da Empresa de Pesquisa Energética, Mauricio Tolmasquim), dizem que está tudo maravilhoso, mas a Aneel está em uma situação dificílima". Ele diz que "o relatório Kelman (feito pelo atual presidente da agência, Jerson Kelman) afirma que em 1999 nós confiamos nas térmicas que não existiam e gastamos água, provocando o racionamento de 2001 e agora estamos vivendo a mesma situação".

O presidente da Associação Brasileira dos Agentes Comercializadores de Energia (Abraceel), Paulo Pedrosa, avalia que a questão da indisponibilidade das térmicas excede os limites do setor elétrico e alcança, por exemplo, definições de política energética sobre as prioridades para o uso de gás.(CS)