Título: Bancos esperam afrouxamento do Fed
Autor: Costa , Roberta
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2012, Finanças, p. C2

Passado o encontro em Jackson Hole, o mais importante do ano para formuladores de política monetária, o mercado reforçou suas expectativas em mais uma rodada de "quantitative easing" (QE, afrouxamento monetário) nos Estados Unidos, apesar de haver configurações diferentes entre as visões dos analistas.

Em linha com as indicações advindas das atas e discursos de Ben Bernanke no sentido de que o Federal Reserve fará acomodações adicionais se necessário, o mercado reforçou a visão de que na reunião do Fomc, que acaba hoje, haverá o anúncio de mais ações não convencionais e nenhuma alteração nas taxas de juros já baixíssimas. A hipótese de redução da taxa de juros sobre reservas excessivas (nos moldes do Banco da Inglaterra) começa a tomar fôlego, mas as apostas ainda são incipientes.

Bernanke defendeu em Jackson Hole que as compras de títulos soberanos contribuíram para a recuperação (insípida, diga-se de passagem) da economia e evitaram riscos deflacionários nos EUA. De fato, nas duas rodadas anteriores de QE havia um cenário mais propício à deflação do que à inflação, o que abriu espaço para uma alta nos preços dos ativos.

Em novembro de 2008, o Fed anunciou compras de dívidas da Fannie Mae e da Freddie Mac, bem como de títulos lastreados em hipotecas (MBS). Em março de 2009, ampliou o programa anterior e anunciou compras de grande escala de títulos de longo prazo do Tesouro (LSAP) - o chamado QE1. Em novembro de 2010, o Fed novamente ampliou o LSAP e em setembro de 2011 lançou a chamada "operação Twist", recentemente estendida até dezembro de 2012, selando, assim, o QE2. A taxa de juros, como se sabe, caiu para o intervalo de 0% a 0,25% nesse período.

A despeito de todas essas ações, a efetividade desses instrumentos sobre a recuperação econômica é bastante controversa, não só na opinião de acadêmicos como entre os próprios membros do Fomc.

No mercado, a expectativa que já existia na reunião de agosto prevalece, e a maioria das casas espera para já o QE3. Há certa linearidade nas opiniões e o cardápio de opções que enxergam para o Fed está bem definido. O Valor Data pesquisou 11 instituições financeiras, todas sediadas em Nova York, para conhecer suas expectativas para a reunião do Fomc. São elas: Bank of America Merryl Lynch, BNP Paribas, Citi, Credit Suisse, Deutsche Bank, HSBC, J.P. Morgan, Jefferies, Morgan Stanley, Nomura e UBS.

Dessas, sete cravam expectativa de anúncio hoje de nova rodada de compras de títulos de longo prazo (LSAP) e/ou reativação do MBS: BNP, Citi, Credit Suisse, HSBC, J.P., Jefferies e UBS. Outras quatro casas (BofA, BNP, Citi e Credit) apostam que o Fed vá introduzir o modelo de QE "open-ended", ou seja, as compras seriam feitas segundo a necessidade (em observância às condições econômicas) com ou sem valores definidos previamente em cada intervenção ou com metas "qualitativas" (focando melhora de certos indicadores).

O BNP acredita que o programa seria de no mínimo US$ 600 bilhões com duração de ao menos nove meses. O Citi vê esse montante entre US$ 400 bilhões e US$ 600 bilhões até 2013, com revisões a cada reunião do Fomc. O J.P. aposta em programa de US$ 300 bilhões com duração de quatro meses, podendo ser prorrogado. O Jefferies vê a reativação do MBS com valores entre US$ 300 bilhões e US$ 500 bilhões.

As duas únicas casas que não esperam pelo QE3 agora são Deutsche Bank e Nomura, mas acreditam que ele virá no fim deste ano. O argumento é que, embora a economia esteja crescendo abaixo do potencial, com lenta recuperação do emprego, não está havendo uma brusca desaceleração adicional, tampouco os riscos são maiores do que já eram (o que vale para a crise europeia).

Ademais, um ponto interessante é levantado: o Fed normalmente espera o término de um programa para renová-lo ou implementar outro novo. Se isso for verdade, apenas após o fim da "operação Twist", em dezembro, haveria outro QE. Há também o aspecto político do cenário. Além das eleições estarem próximas (16 de novembro), o imbróglio fiscal que precisa ser desenrolado na passagem de 2012 para 2013 - o chamado "fiscal cliff" - por si só já demandaria cuidados adicionais para dar sustentação à economia. A menos, claro, que a enorme contração fiscal prevista seja barrada pelo Congresso americano.

A unanimidade entre as casas é a extensão do horizonte de manutenção das taxas "excepcionalmente baixas" previstas até o fim de 2014 para meados ou fim de 2015 - também sob críticas de observadores, que veem nessa prorrogação, por exemplo, um sinal inequívoco para os agentes de que a economia permanecerá titubeante até lá. São discussões que passam pelas formas de aprimoramento da comunicação do Fed.