Título: Tombini não vê risco em choque de commodities
Autor: Romero , Cristiano
Fonte: Valor Econômico, 13/09/2012, Finanças, p. C3

Em depoimento ontem à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, o presidente do Banco Central (BC), Alexandre Tombini, diminuiu a importância do choque de commodities em curso na economia mundial. Disse que o choque é localizado porque atinge poucas commodities agrícolas e deve ter "duração mais curta" e ser de "menor magnitude" que o ocorrido em 2010 e 2011.

Tombini acredita que medidas como a redução dos preços de energia, anunciada há dois dias pela presidente Dilma Rousseff, diminuem a pressão inflacionária. Essa visão reforça a crença daqueles que esperam uma nova redução da taxa básica de juros (Selic) na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Segundo Tombini, a percepção benigna do BC quanto ao choque de commodities é compartilhada por instituições internacionais, como o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) e o Institute of Internacional Finance (IIF), entidade que representa os bancos. Isso indica, na opinião do presidente do BC, que o aumento dos preços internacionais de alimentos deve ser "temporário" e ter efeitos "contidos". "O comportamento na ponta das cotações internacionais das commodities afetadas [pelo choque de commodities], bem como o dos preços domésticos no atacado, sugere certo arrefecimento", disse ele.

No cenário apresentado à CAE pelo presidente do BC, o quadro internacional continua "complexo", "sem soluções definitivas", com viés inflacionário no curto prazo, embora "desinflacionário" no médio prazo.

Essas análises indicam que o BC continua vendo espaço para promover pelo menos mais uma diminuição da taxa Selic. O corte deverá ser feito, como indicou a ata do Copom divulgada semana passada, com a "máxima parcimônia", entendida pelo mercado como uma redução de 0,25 ponto percentual, o que levaria a Selic para 7,25% ao ano no dia 10 de outubro.

O discurso de Tombini confirmou o tom da ata. Havia alguma expectativa de que ele pudesse enfatizar as pressões inflacionárias, sinalizando que o ciclo de alívio monetário, iniciado em agosto de 2011, já teria sido concluído. O presidente do BC fez, entretanto, o oposto: diminuiu a importância dos choques de preços e de seus efeitos sobre a inflação.

Tombini explicou que o choque de commodities, aliado aos fortes aumentos de preços de produtos in natura no Brasil, impedirá a convergência da inflação para a meta de 4,5% em dezembro, como esperava o BC inicialmente. De acordo com o presidente do BC, os choques "desfavoráveis" de oferta só começaram a se materializar em meados de junho. Ele mencionou que o preço internacional das commodities subiu 14,2%, em dólar, entre 21 de junho e 19 de julho, e o preço dos produtos in natura [no Brasil], 14% entre junho e agosto.

Tombini lembrou que, antes desses choques, o mercado esperava IPCA de 4,85% em 2012. Agora, prevê 5,24% (boletim Focus). Ele sustentou que a convergência à meta de 4,5% será "não linear", está passando por "desvios transitórios", mas ocorrerá em algum momento.

Uma fonte graduada do governo disse ao Valor que um novo afrouxamento monetário, por parte dos dois principais bancos centrais do mundo, não produzirá o efeito inflacionário ocorrido em 2010 e 2011. Para esse assessor, se o Fed e o BCE implementarem novas medidas de expansão monetária, elas vão encontrar a economia global com uma dinâmica de crescimento bem diferente da de 2010.

"Essa perspectiva de baixo crescimento reduz a probabilidade de aumento expressivo e generalizado das commodities", observou o assessor. O BC reconhece que a possibilidade de uma nova expansão monetária ("quantitative easing", na expressão em inglês) cresceu nas últimas semanas, mas, se ocorrer, deve vir associada a "medidas mais focadas". "Ao contrário das medidas de 2010, [as novas ações] devem evitar os efeitos colaterais do QE2 (por exemplo, sobre preços de energia)", sustenta uma fonte.

Trata-se de mais uma opinião a reforçar a ideia de que o BC reduzirá os juros, apesar do aumento da inflação no curto prazo e dos riscos associados a novas medidas monetárias por parte dos países ricos.