Título: Lula diz que Rio foi 'menosprezado'
Autor: Jayme, Thiago
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Política, p. A6

A cerimônia de assinatura de convênio de cooperação técnica entre o Estado do Rio e o governo federal para a construção do arco rodoviário do Rio foi marcada ontem por elogios mútuos entre o governador do Estado, Sérgio Cabral Filho, e o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva. Ao discursar para uma platéia de empresários, parlamentares e secretários de governo, Lula admitiu que o Estado do Rio foi "um pouco menosprezado" nos últimos anos, mas que agora, com a capacidade política de Cabral de estabelecer "relações extraordinárias", uma sólida aliança entre União e Estado se avizinha.

"Nós dois (Cabral e Lula) poderemos construir a maior aliança política do Rio de Janeiro desde que Cabral (Pedro Álvares Cabral, descobridor do Brasil) pôs os pés no país", disse Lula.

Adversário político da ex-governadora Rosinha Matheus e de seu marido, o presidente regional do PMDB, Anthony Garotinho, Lula afirmou que não existe possibilidade de um presidente da República deixar de tratar um Estado bem por divergências políticas. "Os meus quatro anos de mandato são testemunhas de que não existe para o presidente da República, a questão partidária", disse Lula. Sem citar nomes, no entanto, afirmou que costuma viajar para lugares quando é convidado, assim como não receberia pessoas em Brasília que tivessem rusgas com ele. "Você só visita um lugar quando se sente bem, quando alguém te convida. Você não vai estar num lugar de xereta o tempo inteiro e ele também não iria jamais à Brasília, no Palácio, se tivesse rusgas", disse Lula, que tem visitado freqüentemente o Rio.

Cabral também não poupou elogios ao presidente e afirmou que o governo federal tem estendido as mãos para o Estado do Rio desde que assumiu o mandato, em janeiro. Em 31 dias de governo, Cabral já obteve R$ 110 milhões do governo federal: R$ 50 milhões para as enchentes e R$ 60 milhões para a Rocinha.

Em tom professoral, Lula afirmou que durante a sua trajetória política aprendeu a distinguir o "político de toda hora daquele companheiro que só está junto quando as coisas estão bem". E fez um alerta ao governador: "Tenho certeza que vamos atravessar dificuldades. Você sabia que deve ter muita gente por aí torcendo para que você quebre a cara porque, lamentavelmente, no Brasil tem uma turma de gente que torce para a coisa dar errada. (Eles pensam) "Daqui a quatro anos eu quero ser candidato, então eu quero que o Sérgio quebre a cara", disse Lula, sem citar nomes.

Cabral voltou a dar declarações de apoio ao Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), indo contra boa parte dos governadores do país. "Para reclamar tem um monte de gente, mas ninguém inventou o PEC, o POC ou o PUC. O senhor (presidente Lula) fez o PAC e está tirando do papel. O país vai crescer", disse.

Lula garantiu que o PAC não será apenas um pacote de intenções e afirmou que os recursos previstos para projetos incluídos no programa não serão contingenciados no Orçamento federal. "Não queremos fazer do PAC um pacote de intenções, como já foi feito nesse país dezenas de vezes", disse Lula, acrescentando que viajará pelo país para acompanhar de perto as obras do PAC. "Sérgio, você vai aprender rapidinho. O porco só engorda se o dono estiver olhando", afirmou Lula mais uma vez em tom professoral.

O presidente cobrou mais investimentos do setor privado e disse que o Brasil não pode ter medo de crescer. "É preciso que tenha uma compreensão da iniciativa privada de também fazer investimentos necessários", afirmou, lembrando que nenhuma parceria público-privada (PPP) foi fechada até o momento.

"O país não pode continuar a ter medo de crescer, a ter medo do aumento da demanda, precisa ter medo é da diminuição da demanda", disse Lula. Na avaliação de Lula, os empresários devem se preparar para aumentar a oferta e evitar a alta das importações. O PAC prevê investimentos de R$ 504 bilhões até 2010. Desse total, R$ 67 bilhões virão da União. O restante virá de empresas, incluindo as estatais.

Ao término da cerimônia, o vice-governador do Estado, Luiz Fernando Pezão, afirmou que a contrapartida do Estado na obra de construção do arco, que deverá ficar entre R$ 550 milhões a R$ 700 milhões, só será definida depois da conclusão do projeto executivo. "Acredito que até julho estaremos lançando os editais e que as obras comecem, no mais tardar, em novembro". *Do Valor Online