Título: Para Alckmin, ex-presidente fez o necessário
Autor: Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Política, p. A8

O candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, voltou ontem a afirmar que não vai privatizar as empresas estatais, caso seja eleito, como vem acusando a campanha de seu adversário, o candidato à reeleição Luiz Inácio Lula da Silva (PT). "A única empresa que eu vou acabar é a mentirobrás do Palácio do Planalto e dos ministros do Lula", afirmou o tucano, durante sabatina no jornal "O Globo".

Apesar de reafirmar que não irá privatizar as empresas estatais, Alckmin defendeu as privatizações ocorridas no governo Fernando Henrique Cardoso. "A privatização do Fernando Henrique foi necessária, mas não temos nenhum objetivo de privatizar o Banco do Brasil, a Caixa Econômica Federal, os Correios e a Petrobras", disse Alckmin. O candidato disse ainda duvidar que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tenha defendido a privatização da Petrobras.

Em entrevista à rádio CBN, o ex-presidente declarou não ser contrário à venda da estatal, mas argumentou que ninguém irá privatizar a empresa. "Duvido que ele tenha defendido a privatização. Até porque ele foi presidente e não fez", disse Alckmin. Ele acrescentou que as declarações de representantes do PT sobre o retorno das privatizações num eventual governo tucano são "uma mentira política para ganhar votos".

Ao deixar o jornal, o tucano afirmou que a privatização teve um papel importante no país, citando as vendas da Embratel e da Embraer, mas ressaltou que seu plano é investir em parcerias com o setor privado na área de infra-estrutura. "Vejo que estamos em outro momento. Para mim, a prioridade hoje não é privatização. É fazer concessões e parcerias público-privadas. Ou seja, trazer o setor privado para complementar o investimento público para o Brasil crescer".

Durante a sabatina, Alckmin acusou o PT de omitir a origem do dinheiro usado na compra do dossiê contra o PSDB. "Claro que as pessoas sabem. A direção do PT sabe, o coordenador da campanha do Lula sabe, o presidente do partido sabe e os petistas sabem. Eles não querem falar", disse o tucano, acrescentando tratar-se de um desrespeito à sociedade brasileira. Ele também criticou a atuação do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, no episódio do dossiê. "Ele se comportou como advogado do PT e não como ministro. A mistura partido e governo é uma promiscuidade".

Mesmo sem o apoio do PDT, que optou pela neutralidade no segundo turno da eleição presidencial, Alckmin disse contar com o apoio da maioria dos líderes pedetistas: "Tinha alguns líderes que defendiam apoio ao Lula. Eles resolveram abrir a questão. Acredito que a grande maioria ficará conosco".

O tucano afirmou já ter recebido telefonemas de apoio do senador Jefferson Péres e do presidente do PDT de São Paulo, Paulo Pereira da Silva, o Paulinho. E ainda espera receber o apoio do candidato derrotado do PDT para presidente, Cristovam Buarque. "Gostaria muito de ter o apoio do Cristovam, mas não quero criar constrangimento". O senador, o presidente do partido, Carlos Lupi, e o secretário-geral do PDT, Manoel Dias, se comprometeram a não declarar o voto até o dia das eleições.

O candidato tucano disse ainda não ter compromisso político com o ex-governador Anthony Garotinho, também presidente do PMDB no Rio. Garotinho declarou apoio a Alckmin no segundo turno das eleições, provocando um racha no partido, uma vez que Sérgio Cabral, candidato do PMDB ao governo do Estado do Rio, recebeu o apoio de Lula. Denise Frossard (PPS), adversária de Cabral na disputa, conta com apoio de Alckmin.

"Não tem aliança política, não tenho compromisso. Apoio se recebe", disse Alckmin, ao referir-se ao apoio de Garotinho. O ex-governador pretende inaugurar cinco comitês eleitorais no Estado a favor de Alckmin e de Sérgio Cabral. A idéia de Garotinho é concentrar os comitês nos municípios da Baixada Fluminense, onde Alckmin recebeu menos votos. O tucano, entretanto, não participará das inaugurações dos comitês. Mesmo sem uma aliança formal, cerca de 250 cabos eleitorais, liderados pela filha de Garotinho e presidente da juventude do PMDB do Rio, Clarissa Matheus, recepcionaram o candidato tucano na chegada ao prédio do jornal "O Globo".

O candidato à Presidência do PSDB, Geraldo Alckmin, praticamente ignorou o resultado da pesquisa Datafolha, que mostrou uma diferença de 20 pontos percentuais entre ele e seu adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

À noite, em São Paulo, Alckmin, novamente, fez pouco das pesquisas eleitorais: " Acho que tem pesquisa e pesquisa. Vamos aguardar um pouquinho " , disse ele, depois participar de encontro de mobilização da militância na capital paulista. " Nós vamos chegar como chegamos também no segundo turno. Acho que o Brasil não vai perder mais quatro anos " , comentou.

Antes do discurso, o presidente do PMDB, Michel Temer, indicou qual seria a atitude frente aos números do Datafolha: " Não vamos nos impressionar com nenhuma pesquisa. " (Com agências noticiosas)