Título: Perto do fim do prazo, Cruzeiro seguia em negociação
Autor: Adachi , Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2012, Brasil, p. A2

Eram boas as chances na noite de ontem de que o banco Santander Brasil chegasse a um acordo para assumir o Cruzeiro do Sul, sob intervenção do Banco Central desde 4 de junho. As conversas haviam avançado bastante ao longo do dia, mas o banco de capital espanhol ainda negociava com o Fundo Garantidor de Créditos (FGC), administrador do Cruzeiro, algumas cláusulas relevantes do contrato, segundo pessoas a par do assunto. Outra fonte chegou a dizer que outro banco ainda teria chance de negociar o controle.

O FGC tem até hoje antes da abertura dos mercados para anunciar uma eventual operação de resgate. A transferência do banco para novo controlador é uma das pré-condições para evitar a sua liquidação. A outra era a adesão de credores representativos de ao menos 90% dos bônus externos do Cruzeiro a uma oferta de compra lançada pelo FGC para aplicar um desconto médio de 49,3% sobre o valor de face da dívida do banco.

Segundo o Valor apurou, a adesão dos credores ficou em torno de 88%, bastante próxima do piso, mas o Fundo a considerou satisfatória. Logo, essa etapa já era considerada superada há pelos menos dois dias. Restava, portanto, definir um novo controlador.

O prazo de hoje para que as duas operações sejam fechadas está ligado ao fato de que há o vencimento de uma emissão de bônus externo do Cruzeiro na segunda-feira. E os trâmites para a transferência do dinheiro precisam ter início hoje para que haja tempo hábil para pagar os credores.

O surgimento do Santander como potencial comprador causou surpresa. As expectativas maiores recaiam sobre Bradesco e BTG Pactual. O que moveu o Santander Brasil a surgir como candidato a comprar o quase falido Cruzeiro do Sul foi o desejo do banco espanhol de transmitir ao mercado, às autoridades e aos clientes a imagem de compromisso com o Brasil. Seus dirigentes parecem ter enxergado uma chance de posicionar o banco como "comprador" no mercado brasileiro e, com isso, procurar se afastar de vez dos rumores de que a unidade brasileira pode ser posta à venda para ajudar a fortalecer a matriz.

De resto, o negócio propriamente do Cruzeiro do Sul não desperta qualquer interesse genuíno do Santander, que não gosta da venda de crédito consignado fora da agência bancária.