Título: Na PF, Berzoini contradiz ex-assessor de Mercadante e diz que desconhecia dossiê
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Política, p. A11

O ex-presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), negou ontem qualquer envolvimento no escândalo do dossiê contra o tucano José Serra. No depoimento na Polícia Federal, que durou aproximadamente uma hora e meia, Berzoini confirmou que um dos envolvidos, Jorge Lorenzetti, trabalhava na campanha de Lula à reeleição, mas reiterou desconhecer qualquer negociação sobre compra de documentos contra candidatos tucanos em São Paulo.

O delegado que investiga o caso, Diógenes Curado, notou, contudo, pelo menos uma contradição entre o depoimento de Berzoini e um dos envolvidos no caso, o ex-coordenador da campanha de Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo, Hamilton Lacerda. Lacerda afirmou que a mala que carregava ao chegar ao Hotel Ibis, em São Paulo, continha material de campanha e boletos de contribuição para a sucessão presidencial. A Polícia Federal perguntou a Berzoini o que ele achava do fato. "Se ele (Lacerda) disse isso, tem algo errado, pois ele não tinha competência para fazer isso", afirmou Berzoini, segundo um assessor da Polícia Federal.

O deputado, que depôs na condição de testemunha, afirmou que só teve conhecimento do episódio quando ele tornou-se público. Antes de ser afastado do comando da campanha de Lula, contudo, Berzoini admitira que tinha conhecimento da reunião do ex-secretário-executivo do Ministério do Trabalho, Osvaldo Bargas, com os repórteres da revista "Época" - antes do material ser repassado para a revista "IstoÉ" - mas que desconhecia o teor do encontro. Ontem, foi enfático: "desconheço qualquer negociação sobre esse assunto".

Está prevista para quinta, ainda que de maneira extra-oficial, o depoimento do empresário de Piracicaba, Abel Pereira, ligado ao atual prefeito da cidade, Barjas Negri, que assumiu o Ministério da Saúde no final da gestão de FHC. Segundo os Vedoin afirmaram na entrevista para a revista "IstoÉ", Pereira atuava como intermediário para liberação de emendas de interesse da máfia dos sanguessugas durante o período em que Negri foi ministro.

A PF iniciou ontem uma operação em 30 corretoras de São Paulo, Rio e Santa Catarina que podem ter participado do processo de internalização dos US$ 250 mil dólares utilizados na compra do dossiê. O delegado acha possível descobrir, nas próximas semanas, a origem desse dinheiro, mas reconheceu que o inquérito vai demorar a ser concluído. A maior dificuldade na investigação sobre os recursos é o fato de que, quando os trabalhos se aprofundam, surgem muitos laranjas e fantasmas envolvidos na operação.

O procurador da República em Mato Grosso, Mário Lúcio Avelar, pediu ontem à Justiça a quebra dos sigilos bancário e de movimentação financeira em Bolsa de Valores do ex-assessor especial da Presidência, Freud Godoy e do ex-coordenador da campanha de Mercadante em São Paulo, Hamilton Lacerda. Avelar quer descobrir se realmente foram transferidos R$ 396 mil em ações do investidor Naji Nahas para Freud em transação feita pela corretora do Banco Alpha. E o Ministério Público quer checar qual foi a sua real participação na operação de compra do dossiê.