Título: Delegado nega 'operação abafa' e constrange oposição
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Política, p. A10

Os presidentes dos partidos que apóiam a candidatura do tucano Geraldo Alckmin à Presidência da República (PSDB, PFL e PPS) foram constrangidos ontem pelo presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal, Sandro Torres Avelar, depois de encontro no gabinete do presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). Ao lado de Tasso e do presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), o delegado negou à imprensa pressões do governo sobre a Polícia Federal para abafar ou protelar as investigações do dossiê Vedoin. Com isso, enfraqueceu estratégia eleitoral da oposição.

Tasso, Freire e o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), receberam Avelar poucas horas depois de protocolarem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) requerimento solicitando ao corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro César Asfor Rocha, investigação de denúncia da revista "Veja", sobre suposta operação do governo para blindar o ex-assessor especial da Presidência da República, Freud Godoy, no caso do dossiê e, por conseguinte, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo a reportagem, o articulador dessa operação seria o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos.

Os presidentes dos três partidos e o advogado da campanha, Eduardo Alckmin, pediram ao TSE que todos os envolvidos sejam ouvidos, inclusive o ministro da Justiça. "Eles cometeram um crime eleitoral organizado. É nosso dever exigir perante a Justiça comportamento adequado da PF e do ministro da Justiça, não como advogado criminalista do presidente da República, mas como uma pessoa responsável, que não induza órgãos auxiliares a cometerem irregularidades em defesa de uma candidatura", afirmou o presidente do PFL.

Na versão publicada na revista, o ex-policial Gedimar Passos, um dos petistas presos com R$ 1,7 milhão em notas de reais e dólares - dinheiro que seria usado para compra de material que supostamente comprometeria o governador eleito de São Paulo, José Serra (PSDB), e o candidato do à Presidência, Geraldo Alckmin com o esquema de venda superfaturada de ambulâncias a prefeituras - teria inocentado Freud Godoy depois de receber visita sigilosa do próprio ex-assessor de Lula nas dependências da Polícia Federal. Antes, em depoimento, Gedimar havia dito que uma pessoa chamada "Froid ou Freud" era o contato com a Executiva Nacional do PT na operação da compra do dossiê.

"A Polícia Federal é muito séria. A nós, incomoda a preocupação com nossa isenção", afirmou o presidente da associação dos delegados da PF, manifestando desconforto com a suspeição da oposição. Com esse argumento, pediu à oposição apoio para mudar a legislação atual, tornando a Polícia Federal um órgão autônomo do governo, sendo o superintendente aprovado pelo Senado, com mandato fixo. "Com a autonomia assegurada em lei, não vamos ficar sujeitos a esse tipo de ilação", afirmou Avelar, referindo-se às suspeitas da oposição. Para a oposição, a própria preocupação de Avelar já seria um sinal da ingerência política na PF, embora o delegado negue.

O presidente do PPS apressou-se a dizer que Avelar, como delegado licenciado, estaria impedido, por questão "disciplinar", de revelar fatos que fugissem dos seus "deveres funcionais". O presidente da associação manifestou também preocupação com o que pode acontecer ao delegado da PF paulista Edmilson Bruno, responsável pela prisão de Gedimar e do empresário Valdebran Padilha, e pelo vazamento para a imprensa de fotos do dinheiro apreendido. Bruno foi afastado das investigações e estaria sendo discriminado internamente na corporação. Segundo Tasso, a ameaça de demissão do delegado seria outro "indício" da "prática fascista e da perseguição" do governo.

A coligação de Alckmin protocolou ainda no TSE pedido de investigação contra o presidente Lula, por suposto crime eleitoral cometido em troca do apoio do governador do Mato Grosso, Blairo Maggi (PPS), à sua reeleição. Ao anunciar apoio a Lula, Maggi afirmou ter recebido promessa de liberação de crédito para seu estado e o setor de agronegócios. "Entendemos que houve cooptação, o que é crime eleitoral", disse Freire. Para Tasso, o adiamento da liberação dos recursos foi uma "confissão de culpa" do governo. Hoje, Alckmin deverá estar em Brasília, onde fará palestra na Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e, depois, responderá a perguntas. À tarde, os presidentes dos partidos da coligação que o apóia irão à OAB pedir que a entidade indique um representante para acompanhar de perto as investigações sobre a compra do dossiê. Tasso, Bornhausen e Freire planejam um encontro com o diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para manifestar a preocupação com a transformação da PF em "polícia política" do governo.