Título: Analistas esperam desvalorização na Venezuela depois das eleições
Autor: Cancel , Daniel
Fonte: Valor Econômico, 14/09/2012, Internacional, p. A13

O aumento de 67% nos gastos do governo da Venezuela, promovido pelo presidente Hugo Chávez, está preparando o terreno para uma desvalorização cambial após as eleições do mês que vem.

Enquanto Chávez aumenta salários e constrói moradias para a população pobre, para obter um terceiro mandato, o bolívar despenca no mercado paralelo, onde já está 62% acima do câmbio oficial, em comparação a 50% no fim de 2011. A maioria das pessoas e empresas está pagando 11,19 bolívares por dólar, contra 8,63 no início do ano e 4,3 bolívares do câmbio oficial.

O aumento dos gastos em agosto está inchando o déficit fiscal, o que vai forçar o governo a desvalorizar a moeda após as eleições para reforçar a receita (em moeda local) com as exportações de petróleo e amparar as finanças públicas, afirmam o Barclays e o Bank of America em relatório divulgado anteontem, que revela que os gastos subiram 41% (ajustado à inflação) e 67% em termos nominais.

Chávez é o favorito na eleição contra Henrique Capriles, segundo a mais recente pesquisa de intenção de voto da Datanálisis. Caso vença, ele terá outro mandato de seis anos para aprofundar sua revolução e ampliar o controle do Estado sobre a economia.

"O mercado está precificando uma desvalorização cambial em 2013, independentemente de quem vença", diz Carlos Fuenmayor, presidente do BancTrust, uma consultoria de Miami.

O governo e a estatal de petróleo PDVSA vêm oferecendo moeda estrangeira para um mercado do banco central a uma segunda taxa oficial, de 5,3 bolívares por dólar. Nesse mercado, investidores compram bônus denominados em dólar com bolívares, localmente, e depois vendem os títulos fora da Venezuela em moeda americana.

Este ano, o governo está vendendo só títulos de dívida em moeda local e a única venda da PDVSA, uma oferta de US$ 3 bilhões, foi designada para o banco central e bancos estatais em uma colocação privada, alimentando a demanda por dólares no mercado paralelo.

A Venezuela oferece uma quantidade limitada de dólares pela taxa oficial para atender as necessidades de importação. Aqueles que não recebem aprovação para comprar dólares a essas taxas, recorrem ao mercado paralelo.

Chávez, que impôs o controle cambial pela primeira vez em 2003, disse esta semana que não pretende desvalorizar a taxa oficial e que a economia está estabilizada. "Nossa política cambial está funcionando", disse. Em 2010, o governo fechou um mercado de câmbio não regulamentado, administrado por corretoras, numa tentativa de frear as importações que estavam contribuindo para a alta da inflação, fechando-o quando a taxa atingiu 8,2 bolívares por dólar. O bolívar teve uma desvalorização de 4% no ano passado, segundo a Lechuga Verde, terminando 2011 a 8,63 bolívares por dólar.

Com o câmbio mais fraco, aumenta a quantidade de bolívares que a Venezuela consegue com as exportações de petróleo, que são vendidas em dólares e geram 95% da receita de exportações do país.

O presidente do BC, Nelson Merentes, disse a Chávez em agosto de 2011, quando questionado sobre a taxa no mercado paralelo, que ela estava "sob controle". O governo proíbe a imprensa local de publicar ou comentar cotações do bolívar que não a oficial, enquanto que os negócios com dólar fora dos canais oficiais são puníveis com multas e prisão. Os venezuelanos começaram a usar novos nomes para falar sobre o dólar, como "lechuga" (alface, em espanhol) para contornar as regras do governo.

O Banco Central e o Ministério das Finanças não responderam e-mails e telefonemas, para falar sobre a possibilidade de desvalorização e a alta dos gastos do governo.

O governo central da Venezuela informou gastos de 42,4 bilhões de bolívares (US$ 9,8 bilhões) em agosto, excluindo os pagamentos da dívida pública, bem acima dos 25,5 bilhões de bolívares do mesmo período de 2011, segundo o site do Tesouro Nacional. O país teve déficit fiscal equivalente a 4% do PIB em 2011, o último número divulgado pelo governo.

Apesar da queda do bolívar no mercado paralelo, Chávez conseguiu reduzir a inflação anualizada por nove meses seguidos, a 18,1% em agosto, fazendo o governo ampliar as importações de alimentos pela taxa oficial. Os alimentos respondem por 37% do IPC, o maior peso no indicador de preços.

Chávez desvalorizou o câmbio oficial duas vezes desde 2010, de 2,15 bolívares por dólar para os atuais 4,3, e manteve a taxa do mercado cambial do BC em 5,3 desde o início, em junho de 2010.

A média de 14 analistas consultados pela Bloomberg em julho aponta para uma desvalorização do bolívar de 31%, para 6,2 bolívares por dólar, no primeiro trimestre de 2013. A taxa do banco central deverá enfraquecer 18%, para 6,5 bolívares por dólar, segundo a estimativa média de 11 analistas.