Título: Nem a queda do preço do açúcar abala investidores
Autor: Scaramuzzo, Mônica
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Especial, p. A16

Depois de mais de 30 anos dedicados à pecuária e à agricultura, o pecuarista Celso Dal Lago Rodrigues, de Dourados (MS), rendeu-se ao açúcar e álcool. Rodrigues será sócio de uma usina sucroalcooleira com o empresário Luiz Guilherme Zancaner, presidente do grupo Unialco, com sede em São Paulo.

Em sua fazenda, Rodrigues já começou a plantar as primeiras mudas de cana-de-açúcar, enquanto aguarda a liberação da licença ambiental de sua usina. "Já temos um viveiro de mil hectares". O projeto todo prevê uma área de 30 mil hectares para que a usina processe 3 milhões de toneladas.

"A cana será a vedete dos agronegócios", aposta Rodrigues, que nunca lidou com cana. Nem mesmo as recentes quedas dos preços do açúcar no mercado internacional desanimam o mais novo empresário do setor. Desde maio, início da safra 2006/07 no centro-sul, as cotações do açúcar recuaram 27,5% em Nova York e 18,7% em Londres. Mas, apesar das recentes quedas, os preços acumulam alta em 12 meses de 26,5% em Londres e de 11,17% em Nova York.

"Não respaldo meus investimentos no açúcar. Minha aposta é no álcool", diz Rodrigues. No projeto da usina de Dourados, o empresário será acionista minoritário. Mas ele procura futuros sócios para implantar sua segunda usina em Ponta Porã (MS), onde tem uma fazenda. Os viveiros de cana deverão ser implementados a partir de 2008. Se não conseguir sócios, o pecuarista garante que irá se desfazer de parte do seu rebanho para tocar sozinho o projeto. Para Rodrigues, os empresários do Mato Grosso do Sul têm de participar do "boom" da cana. "Caso contrário, ocorre o mesmo que no Triângulo Mineiro, que está repleto de investimentos de empresários de outras regiões".

Também entusiasta, o prefeito de Rio Brilhante, Donato Lopes da Silva (PTB/MS), cederá parte de sua fazenda de soja para plantar cana. Lopes não será sócio de usina, mas se tornará um fornecedor de matéria-prima. Paulista de Buritama, ele está desde o início dos anos 70 no Mato Grosso do Sul.

Prefeito de Rio Brilhante pela terceira vez, no início Lopes apostou no plantio de arroz e na soja. "A cidade está assistindo à expansão canavieira. Decidi ir para a cana porque a cultura está mais rentável que a soja", afirma. Com fazenda em Rio Brilhante, Lopes vai fornecer cana para as usinas que estão se instalando na região.

Nos últimos dois anos, o entorno de Rio Brilhante tem sido alvo de investimentos em cana. A Louis Dreyfus está construindo na região sua quarta unidade. A usina Eldorado, de Benedito Coutinho, começou sua primeira safra este ano e vai ampliar a moagem. Um grupo italiano, o Safi, comprou a Novagro, uma usina desativada (atual Santa Fé), em Nova Alvorada do Sul, vizinha a Rio Brilhante, e já iniciou o plantio de cana.

A decisão de diversificar a cultura, a exemplo de Rodrigues e de Lopes, reflete o otimismo de boa parte dos agricultores e pecuaristas do Estado, prejudicados pelos baixos preços dos grãos e do boi gordo. A produtividade do Estado foi de 72,1 toneladas de cana por hectare, ante 84 toneladas de São Paulo na safra passada, a 2005/06.

Carmelindo Romildo, presidente da Associação Comercial de Rio Brilhante, lembra que a cidade já se diversificou cedendo de parte da pecuária para os grãos. "A cidade [emancipada há 77 anos] já passou por diversos dissabores, desde o século 19. Na guerra do Paraguai, por exemplo, a cidade foi praticamente abandonada por causa dos conflitos. Os que ficaram, sobretudo mulheres e crianças, sofreram todos os tipos de abusos". (MS)