Título: Abert quer mais agilidade para escolha de padrão
Autor: Rittner, Daniel
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Empresas, p. B4
A Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert) cobrou ontem mais agilidade do governo na escolha do sistema de rádio digital. O setor espera uma decisão oficial até o fim do ano para lançar, entre março e maio de 2007, a nova tecnologia nas principais capitais do país. Por enquanto, 15 emissoras brasileiras operam em caráter experimental com o padrão americano IBOC, mas não há indicações de que a definição do sistema ocorra até dezembro.
O ministro das Comunicações, Hélio Costa, já sinalizou preferência pela tecnologia americana - que têm europeus, japoneses e sul-coreanos como concorrentes. Na semana passada, Costa disse que um dos motivos pelos quais não se licenciou do cargo, a fim de dedicar-se integralmente à campanha de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é a intensa agenda que ainda pretende cumprir à frente do ministério. Ele citou especificamente a definição do padrão de rádio digital entre essas tarefas, mas sugeriu a criação de um conselho consultivo sobre o assunto para ampliar as discussões, em processo semelhante ao que ocorreu com o debate sobre TV digital.
Acompanhado de radiodifusores de vários Estados, o presidente da Abert, Daniel Slaviero, pediu mais rapidez no processo, em encontro com Costa. "Não é uma questão de vaidade, mas de sobrevivência", ressaltou. Segundo ele, o setor está ficando para trás em relação a outros meios, como telefonia, internet e, agora, a televisão. "Hoje, a rádio AM está inviabilizada pela falta de qualidade tecnológica", observa. "A digitalização só equipara as condições de jogo."
Uma das grandes vantagens da rádio digital é a qualidade de som do AM, que passa a ter o som de uma emissora FM atual. Por sua vez, a qualidade de som do FM passa a ser igual a um CD. Em ambos os casos, as interferências são quase totalmente eliminadas. Diferentemente da TV digital, não existe um "set-top box" (conversor) para transformar os sinais analógicos em digitais. No caso do rádio, os consumidores deverão comprar novos equipamentos para ter acesso à tecnologia digital. Em contrapartida, ao contrário do que ocorre com a televisão, os aparelhos continuarão podendo receber sinais das emissoras que preferirem manter as transmissões analógicas. Não haverá desligamento dos sinais analógicos.
De acordo com o presidente da Abert, a transição deve demorar entre cinco e dez anos, dependendo do porte das emissoras - são aproximadamente 2.500 rádios comerciais no país. Slaviero estima que os radiodifusores vão investir US$ 100 milhões, até 2008, para entrar na era digital.
A cifra envolve, basicamente, a compra de transmissores e antenas digitais. Para emissoras de médio porte, o gasto deverá ficar entre US$ 100 mil e US$ 130 mil com equipamentos. Os radiodifusores ainda não entraram em negociação com o governo sobre mecanismos de financiamento. Slaviero afirmou que a definição ajudará a fomentar uma política industrial para o setor. Segundo ele, a Zona Franca de Manaus já produz receptores (aparelhos de rádio) digitais, mas eles são todos exportados.
A Abert diz que existem 250 milhões de receptores de rádio no mercado brasileiro. Junto com a Eletros, associação que representa os fabricantes de produtos eletrônicos, a entidade está fazendo projeções do montante de recursos que poderão ser movimentados com a digitalização do rádio. A TV digital vai movimentar US$ 88 bilhões na indústria eletrônica, nos próximos dez anos, segundo o presidente da Gradiente, Eugênio Staub.
Para Slaviero, o único padrão que atende atualmente aos requisitos dos radiodifusores é o sistema americano IBOC. Ele permite a ocupação dos mesmos espectros de radiofreqüência das concessões analógicas já existentes no Brasil. "Os testes já demonstraram que os outros (padrões) não têm essa adequação", observou. O presidente da Abert acredita que as eleições têm ajudado a atrasar o processo de escolha. "No que o processo eleitoral não está interferindo, no Brasil inteiro?", questiona.