Título: Sigatoka negra eleva o custo da banana em SP
Autor: Jurgenfeld, Vanessa
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Agronegócios, p. B12

Há dois anos se espalhando com mais intensidade pelo Brasil, a Sigatoka negra, uma das doenças mais severas para a bananicultura, ao lado do mal-do-panamá, já provoca aumento de 50% nos custos de produção no Vale do Ribeira (SP), principal região produtora do país. A doença chegou ao vale em 2004, seis anos após a identificação do primeiro foco em território brasileiro, no Amazonas.

De seis aplicações de fungicida, os produtores do interior paulista passaram a nove. Com chances de ser tão devastadora quanto o mal-do-panamá, que chegou ao Brasil em 1957 e atualmente afeta a produção também de bananas do tipo nanica, a Sigatoka está fazendo com que se gaste R$ 1.125 por hectare por ano com fungicidas. Antes de 2004, quando só estava presente nas lavouras a Sigatoka amarela, "irmã" mais branda da doença, os produtores gastavam R$ 750.

"A tendência é que se amplie o uso de tecnologia na produção de bananas e que os produtores pequenos fiquem mais pressionados, podendo sair do mercado", afirma Wilson Moares, pesquisador da Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios (Apta). Segundo ele, em uma área de monitoramento em Jacupiranga (SP) foram feitas as primeiras experiências com nove aplicações neste ano, e isso servirá de referência para outros municípios produtores.

A ampliação do uso de fungicidas é um temor dos pesquisadores, uma vez que os agrotóxicos afetam custos, ambiente e não são ideais para a saúde humana. A intenção dos pesquisadores é frear no Brasil a velocidade que a doença tomou em outros países da América Latina, onde está desde os anos 70.

Ontem, em Joinville, durante o Acorbat, encontro mundial sobre bananicultura, a Sigatoka concentrou as atenções dos pesquisadores da América Latina, assim como os números apresentados pelos países mais experientes no assunto. Provocada por um fungo que ataca as folhas e impede o desenvolvimento da bananeira, a Sigatoka negra levará os produtores da Costa Rica a fazer 55 aplicações de fungicidas neste ano (em 1987 eram 16); na Colômbia, serão 32.

"Chegamos no limite. A União Européia entende, mas quer menos fungicida. O bom para o Brasil é que, como a doença chegou mais tarde, pode usar a experiência de outros países e fazer diferente", diz Mauricio Gúzman, pesquisador da Corporación Bananera Nacional, da Costa Rica. Gúzman defendeu o plantio de variedades mais resistentes porque nas experiências do seu país o fungo da Sigatoka desenvolveu tolerância a fungicidas.

No Amazonas, onde o consumo é todo local, a variedade tradicionalmente cultivada já foi trocada por outras mais resistentes. A Embrapa já desenvolveu 17 tipos, e foram usados sete. Outros Estados ainda não articulam mudanças na variedade produzida, mas podem fazê-lo. A preocupação é a aceitação do consumidor, em especial no externo.