Título: Recursos somam US$ 177 bilhões
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Finanças, p. C1

O Banco Central começou nesta semana a coleta de dados de seu censo de capitais estrangeiros no Brasil, com data-base em dezembro de 2005. Os resultados finais só devem ser apresentados no ano que vem, mas levantamento preliminar do próprio Banco Central indica que o volume de investimentos estrangeiros diretos no país aumentou quase 60% desde o último censo, realizado em 2000, passando de US$ 103,014 bilhões para US$ 177,024 bilhões.

Se forem considerados também os empréstimos intercompanhia, o estoque de investimentos diretos em 2005 chega a US$ 195,562 bilhões. O Banco Central só começou a considerar os empréstimos intercompanhia como investimentos diretos a partir de 2001, adotando o padrão de contabilidade reconhecido pelo Fundo Monetário Internacional (FMI).

O BC atualiza trimestralmente os dados do censo de capitais estrangeiros utilizando os fluxos de investimentos diretos. As informações são divulgadas nas notas do setor externo.

A análise do fluxo de investimentos diretos por setor mostra que os serviços continuaram a ser o segmento que mais atrai capitais estrangeiros. Mas ele perdeu um pouco de sua importância em relação ao estoque apurado pelo censo de 2000. A indústria avançou um pouco mais, assim como o setor primário, sobretudo a extração de petróleo.

Em 2000, o setor de serviços respondia por 63% do estoque de investimentos diretos, sem considerar empréstimos intercompanhia. Nos cinco anos seguintes, o fluxo de investimentos para serviços correspondeu a 54% do ingresso total.

A forte concentração dos investimentos em serviços vinha sendo alvo de críticas de alguns analistas econômicos, porque não gera receitas em dólares para cobrir os compromissos com a remessas de lucros e dividendos. A visão do BC, por outro lado, é que, embora não crie diretamente receitas em dólares, o setor de serviço aumenta a eficiência da economia, ampliando a produtividade de setores exportadores.

A indústria, que representava 34% do estoque de capitais estrangeiros em 2000, respondeu por 38% do fluxo de investimento nos cinco anos seguintes. Já nas atividades primárias essa relação aumentou de 2% para 7%.

Na indústria, o setor que mais recebeu capitais estrangeiros nos últimos cinco anos é o de alimentos e bebidas. Os ingressos somaram US$ 10,3 bilhões, equivalendo a mais de duas vezes o estoque de investimentos apurado em 2000, de US$ 4,618 bilhões.

Cerca de metade dos investimentos no setor de alimentos e bebidas se deve à fusão da AmBev com a InterBrew, que movimentou US$ 5 bilhões. Mesmo desconsiderando essa operação, o volume de investimento em alimentos e bebidas continua representativo, com cerca de US$ 5 bilhões. Entre os investimentos em atividades industriais, esses investimentos só perdem para os investimentos da indústria automobilística (US$ 6,047 bilhões) e de produtos químicos (US$ 6,2 bilhões).

O destaque no setor primário é a extração de petróleo, com ingressos de US$ 3,4 bilhões. No setor de serviços, as telecomunicações permaneceram como o principal setor, com US$ 16 bilhões; o setor de eletricidade vem a seguir, com US$ 6,4 bilhões. Também apresentam volumes representativos os setores de intermediação financeira (US$ 5,3 bilhões) e os serviços prestados principalmente às empresas (US$ 6,2 bilhões), que reúne principalmente "holdings".

O BC irá receber as declarações de capitais estrangeiros - que incluem não só investimentos diretos, mas também outros capitais - até 15 de dezembro. Estão obrigadas a declarar as empresas que tinham, até o ano passado, participação estrangeira de no mínimo 10% das cotas ou ações com direto a voto, ou 20% do capital total. Também devem declarar empresas com dívida no exterior a partir de R$ 100 mil.