Título: Cresce aposta em Selic estável a 7,5%
Autor: Olivera , João José
Fonte: Valor Econômico, 18/09/2012, Finanças, p. C2

No primeiro dia útil depois que o Banco Central anunciou a liberação de parte dos depósitos compulsórios dos bancos, as projeções de juros negociadas na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) mostraram comportamentos opostos - enquanto as taxas de curto prazo subiram, as estimativas para o longo prazo cederam. Segundo economistas e operadores, aumentou a quantidade de investidores que espera estabilidade da Selic em 7,5% - seja neste ano, descartando o corte de 0,25 ponto percentual, seja em 2013, em detrimento de um aperto monetário.

Na BM&F, a projeção de juros sinalizada pelo contrato com vencimento em janeiro de 2013 (o chamado DI janeiro/2013) subiu de 7,29% na sexta-feira para 7,32% ontem. Na mesma base de comparação, o DI janeiro/2017 caiu de 9,29% para 9,23%.

Com essas variações, a diferença entre essas duas taxas caiu de 1,51 ponto percentual na sexta-feira para 1,45 ponto ontem - a primeira queda desde o dia 6 de setembro. Quanto menor a diferença entre as taxas projetados pelo mercado para o curto e para o longo prazo, maior a expectativa de que o juro básico fique estável.

É que aumentou a quantidade de investidores que projetam estabilidade da Selic neste ano em 7,5% - descartando um novo corte de 0,25 ponto percentual. Ao mesmo tempo, cresceu a proporção dos que projetam esse mesmo juro básico em 2013, em detrimento dos que apostam no ciclo de aperto monetário.

Para esse cenário contribuiu a decisão do Banco Central de liberar mais depósitos compulsórios dos bancos para o crédito.

O economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban), Rubens Sardenberg, afirma no boletim semanal da entidade divulgado ontem que a liberação de parte dos compulsórios representa mais uma expansão na liquidez do sistema, o que recomendaria alguma parcimônia adicional da definição das taxas de juros. "Por conta disso tudo, parece mesmo razoável apostar que aumentaram as chances de a Selic permanecer nos atuais 7,5% ao ano daqui para a frente e por um período razoável de tempo", aponta Sardenberg.

Segundo cálculos de operadores, a curva traçada pelos contratos de juros negociados na BM&F considera agora apenas 20% de chance de os juros serem reduzidos para 7,25% no próximo encontro do Comitê de Política Monetária (Copom).

Para o economista-chefe da Gradual Investimentos, André Perfeito, a medida anunciada pelo BC tende a encaminhar os R$ 30 bilhões na direção de Letras Financeiras e carteiras de crédito. "Fica evidente que o objetivo do BC é jogar a parte longa da curva de juros para baixo. A nossa autoridade monetária está tentando criar um novo consenso sobre os juros no Brasil e essa ação deixa claro que não há mais espaço na curva-pré para juros acima de 10%", avalia o economista da Gradual.

O economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, pondera que o BC pode aproveitar a descompressão da inflação em 2013, proporcionada pela redução das tarifas de energia elétrica, para promover um corte derradeiro, de 25 pontos-base, na Selic na reunião do Copom em outubro. A partir daí, a Selic só deve voltar a subir no segundo semestre de 2013.

Mas Combat admite que a taxa básica pode seguir inalterada. "Não podemos descartar a possibilidade de que o BC lance mão de instrumentos alternativos de política monetária caso pretenda manter um nível reduzido de juros por um período mais longo de tempo".