Título: BNP Paribas entra no microcrédito
Autor: Carvalho, Maria Christina
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, Finanças, p. C3

O BNP Paribas, quinto maior banco estrangeiro no Brasil em ativos totais, vai entrar no microcrédito. A decisão foi informada segunda-feira ao presidente do banco no país, Bernard Mencier. "É um novo desafio", disse Mencier, que preside o BNP Paribas desde 2001 e já arregaçou as mangas para nova tarefa, com o mesmo entusiasmo com o qual ajudou a montar o histórico crédito de US$ 250 milhões obtido no início do ano pela Gerdau para comprar equipamentos chineses. "Agora vou emprestar R$ 50,00", afirmou.

O banco francês fechou o primeiro semestre com ativos totais de R$ 13 bilhões, 62,5% a mais do que os R$ 8 bilhões de junho de 2005, com um lucro líquido de R$ 33 milhões e patrimônio de R$ 625 milhões. O grupo inclui ainda a Cetelem, braço de financiamento ao consumo, cuja carteira atingiu R$ 2,5 bilhões em junho e lucrou R$ 16,9 milhões no primeiro semestre; e a seguradora Cardif.

O primeiro passo do projeto do microcrédito, disse Mencier, será um estudo para viabilizar a proposta. O projeto, esclareceu, é anterior ao anúncio feito na semana passada de que o criador do microcrédito, o banqueiro de Bangladesh Muhammad Yunus, fundador do Grameen Bank, havia ganho o Nobel da Paz.

A única certeza que Mencier tem é que o microcrédito deve ser bancado com capital próprio no Brasil por causa do custo elevado do dinheiro. Para dar certo, explicou, o juro do microcrédito não pode ser alto.

O BNP Paribas já tem experiência em microcrédito em outros países. Além da França, faz microcrédito no Marrocos, Egito, Índia e Senegal. A esse grupo será agora acrescentado o Brasil.

Mencier acredita que a operação brasileira deverá se inspirar na experiência obtida nesses países. Na França, o BNP Paribas e a Foundation Cetelem atuam no microcrédito em parceria com a organização Association pour le Droit a L'Initiative Economique (Adie), fundada em 1989.

A organização trabalha em parceria com bancos como o BNP Paribas, que fornecem os recursos para serem emprestados e assumem parte do risco da operação. Outros parceiros são o governo, autoridades locais e fundos europeus. A parceria com o BNP Paribas já tem dez anos e envolve não apenas funding mas também apoio técnico, desenvolvimento de novas linhas, pesquisa sobre o uso do credit score na área de empréstimo para pequenos negócios e cartão.

A Adie trabalha com o crédito solidário, mecanismo em que grupos de pessoas tomam os recursos e avalizam a operação umas das outras.

Em 2005, as operações da Adie cresceram 20,6% nas operações no ano passado. Desde que foi fundada, ajudou a criar 35 mil empresas e 42 mil empregos.

Também nesta semana o BNP Paribas anunciou na França o plano de desenvolver uma rede varejo em mercados emergentes do Oriente Médio e região do Mediterrâneo. A meta anterior era abrir 200 agências nessa região entre 2005 e 2007 mas já foi ampliada em um terço. Desse total, 139 agências serão abertas neste ano. No Brasil, disse Mencier, não há planos nessa área, mas as operações de varejo continuarão sendo tocadas pela Cetelem e, agora, pelo microcrédito.