Título: Ritmo acelerado
Autor: Fariello, Danilo e Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, EU & Investimentos, p. D1

A previdência privada aberta cresce em alta velocidade neste ano. Somente até setembro, a captação dos planos de aposentadoria foi 53% maior do que o mesmo período do ano passado, segundo relatório do site Fortuna. O estudo mostra que R$ 6,215 bilhões ingressaram em fundos de previdência no ano, frente aos R$ 4,062 bilhões que entraram no mesmo período do ano passado. Além do crescimento vigoroso, chama a atenção também o fato de o interesse por planos de aposentadoria ter avançado em praticamente todos os segmentos de clientes, ou seja, no varejo, na alta renda, nos corporativos, assim como nos planos infantis.

O forte avanço do setor neste ano fez especialistas do mercado revisarem suas estimativas para o mercado. O antes mais conservador Eduardo Bom Angelo, presidente da Brasilprev, passou a prever um avanço ainda a passos largos do setor por pelo menos mais cinco anos. Por seus cálculos, a previdência privada aberta já representa 4,8% do PIB e tende a subir. A previsão oficial da Associação Nacional da Previdência Privada (Anapp) indica que, já no início do próximo ano, o setor atinja volume de R$ 100 bilhões. Atualmente, segundo a instituição, as seguradoras tem R$ 92,2 bilhões sob gestão.

O crescimento que o setor vem apresentando neste ano é brutal, diz Marcelo D'Agosto, sócio do Fortuna. "O interessante é que o avanço ocorreu em todas as faixas de clientes, ou seja, não há concentração em segmento específico."

O movimento, no entanto, oculta uma recuperação frente ao menor ritmo de captação apresentado no ano passado. No primeiro semestre do ano passado, por exemplo, o setor de previdência quase não cresceu por causa das mudanças tributárias que permitiram que os investidores escolhessem a forma de tributação de seus planos - se pela tabela progressiva, de até 27,5%, ou pela regressiva, que varia de 35% a 10% conforme o tempo de permanência na aplicação. Além de o investidor demorar um pouco para entender qual a melhor opção no seu caso, os próprios corretores precisaram ser treinados para orientar os clientes. "Mas mesmo com toda aquela confusão no ano passado, essa recuperação registrada pelo mercado ainda é grande", diz D'Agosto.

Os investidores e o próprio mercado, por meio dos corretores, levaram um tempo para entender as mudanças no ano passado, mas agora todos estão mais esclarecidos, avalia Luciano Snel, diretor de Vida e Previdência da Icatu Hartford. "O crescimento vem acontecendo no negócio como um todo, seja nos planos individuais ou corporativos, seja no varejo ou na alta renda." Nas estimativas do executivo, o setor de previdência privada no país tende a continuar crescendo pelo menos dois dígitos durante ainda vários anos.

O Vida Gerador de Benefícios Livres (VGBL) vem puxando o crescimento do setor de previdência. No caso da Caixa Vida e Previdência, os planos individuais representam 95% do estoque de recursos, conta Juvêncio Braga, diretor de Vida e Previdência. Os outros 5% são fundos corporativos, mas o executivo diz que a Caixa não tem em sua base planos tradicionais, que ofereciam benefício definido e hoje não são mais vendidos pelas seguradoras. Os Planos Geradores de Benefício Livres (PGBLs) são indicados para os investidores que fazem a declaração do imposto de renda pelo formulário completo e podem deduzir até 12% da renda bruta tributável com as aplicações. Já os VGBLs são indicados para os investidores que fazem declaração pelo formulário simplificado ou têm capacidade de poupança maior que os 12% dedutíveis e querem colocar o excedente em planos de aposentadoria.

A aposta de permanência do crescimento do setor tem base na impressão de que ainda são poucos os que se preocupam realmente com a aposentadoria. "A conscientização das pessoas da importância da previdência privada tende a ficar maior e perdurar ainda por muito tempo", diz Snel, da Icatu. Além disso, as contribuições dos investidores tendem a ficar maiores à medida que eles começarem a rever a renda necessária para viver bem durante a aposentadoria, avalia.

Braga, da Caixa, lembra que o crescimento do setor está ligado ao aumento da capacidade de poupança da população. Além disso, colabora com o avanço do setor, segundo ele, a transferência de recursos de longo prazo que hoje estão em fundos de investimento. Alguns investem em fundos mútuos para juntar dinheiro para a educação do filho, quando a previdência seria o produto mais adequado, diz.

Entre as instituições com maior captação, os grandes bancos de varejo continuam na liderança. Interessante, notar, no entanto, que nos últimos dois meses a Brasilprev, seguradora do Banco do Brasil, ultrapassou o volume captado pelo Itaú. Segundo dados do Fortuna, a Brasilprev captou R$ R$ 230 milhões em agosto e R$ 227 milhões em setembro. Já o Itaú registrou ingresso de R$ 182 milhões em agosto e R$ 165 milhões no mês passado. As duas instituições brigam pelo segundo lugar em fatia do mercado, atrás do Bradesco, que captou R$ 420 milhões em agosto e outros R$ 261 milhões em setembro. Segundo Bom Angelo, a Brasilprev cresceu com mais força nos últimos meses principalmente por passar a oferecer produtos para investidores de alta renda. "Muitos passaram a investir em previdência ou trouxeram recursos de outras seguradoras." A seguradora prevê ter R$ 12,37 bilhões de ativos sob gestão no fim deste ano, que levaria a um crescimento de 28% frente ao fim de 2005.