Título: Diversificação no comando para alcançar sucesso global
Autor: Giardino, Andrea
Fonte: Valor Econômico, 18/10/2006, EU & Investimentos, p. D6

Se quiserem ser realmente globais, as empresas precisam ter em seus quadros profissionais de vários países. Seja da Ásia, da Europa ou da América Latina. É essa diversidade que garantirá o sucesso das organizações, aliada ao novo perfil de seus funcionários. "As companhias precisam ficar atentas na hora de contratar talentos", diz Mary Kier, vice-presidente da Cook Associates, empresa americana de "executive search", parceira da InterSearch, que no Brasil são associados à consultoria Mariaca & Associates.

Ela defende o modelo conhecido por "performance hiring", capaz de identificar potenciais talentos com base no conceito de alta performance, ao mesmo tempo em que valoriza a formação de executivos globais. Em recente visita ao país, Mary conversou com o Valor. Leia trechos de entrevista:

Valor: Com a globalização, qual o perfil da empresa do futuro?

Mary Kier: Como prerrogativa, elas precisam atuar sob um modelo de responsabilidade social e diversidade. E quando falo de diversidade não me refiro apenas à questão de gênero e raça. Mas da necessidade de ter profissionais de vários países. Para uma companhia brasileira ser global, ela precisa ter não somente profissionais brasileiros, e sim executivos da Ásia, da Europa e dos Estados Unidos. E eles terão funções globais. O mesmo se aplica às unidades de negócios. Tecnologia da informação (TI) e marketing são divisões bastante estratégicas que devem ter um olhar mais global.

Valor: Diante desse novo cenário, como reter talentos?

Mary: Reter talentos globais é o maior desafio das empresas daqui para frente. Uma pesquisa recente mostra que a busca por talentos deve se intensificar nos próximos três anos, com um crescimento anual de 8,3%. No entanto, a grande diferença é encontrar os que se encaixem às necessidades das companhias voltadas para ambientes de alta performance, conceito conhecido por "performance hiring". Achar executivos com esse perfil definirá o sucesso das organizações.

Valor: Elas devem buscar fora ou dentro da própria companhia?

Mary: É claro que as empresas precisam buscar fora, mas acredito que é essencial descobrir talentos internos. As organizações, muitas vezes, não conseguem identificar potenciais talentos porque não vêem as habilidades de seus funcionários. Não os ouvem. Em contrapartida, o modelo "performance hiring" ajuda quando é preciso recrutar fora. O processo de descoberta de executivos seniores, com alta performance, exige métricas distintas, de olho na diversidade. É preciso ficar sempre atento àqueles que estão à volta e ver quem pode fazer de fato a diferença para a companhia.

Valor: As organizações já estão preparadas para isso?

Mary: No momento não vejo empresas preparadas para essa nova realidade, mas acredito que nos próximos cinco ou dez anos veremos algo concreto. No mundo todo, já percebo uma preocupação em reter talentos para o futuro, movimento que já vem sendo feito nos Estados Unidos, onde as empresas vêm desenvolvendo executivos globais. A American Express já faz um trabalho de preparar os profissionais nessa linha. Muitas, inclusive, incentivam seus empregados a morarem na China ou na Índia como forma de entender a cultura local. Na índia, por exemplo, há um grande desenvolvimento do setor de TI. Acredito que só o convívio de perto com a cultura local pode fazer do profissional um executivo com perfil globalizado. No Brasil, o cenário ainda é incipiente. O Bradesco, por exemplo, vem estudando como implantar esses modelos.

Valor: Fala-se muito sobre a presença tímida das mulheres em postos de comando. Na sua opinião, esta é uma questão que deve mudar nos próximos anos?

Mary: As mulheres possuem uma cruel desvantagem em relação aos homens. Apesar de terem as mesmas oportunidades que homens, acabam tendo um "gap" na carreira. Elas casam, têm filhos, saem do mercado de trabalho e quando se divorciam, precisam voltar para sustentar a família. É um ciclo que gera um "gap" de seis anos em relação aos homens, que continuam ascendendo. De uma certa forma, a dificuldade de chegar lá continuará existindo, mesmo em menor proporção.