Título: Para Lembo, governadores forçarão saída conciliatória em eventual reeleição
Autor: Felício, César
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2006, Política, p. A5

O governador de São Paulo, Claudio Lembo (PFL), prevê uma aproximação entre o PT e os partidos de oposição no próximo ano. Segundo Lembo, que entrega o cargo em 2007 para o governador eleito, José Serra (PSDB). "O Brasil tem ciclos de conciliações que se sucedem aos de tensão, desde o Primeiro Império. Seja quem for o presidente, ele precisará promover uma conciliação nacional. É um processo normal no Brasil", disse.

O governador citou os pontos que poderão se tornar uma agenda comum entre PSDB, PFL e PT: a reforma tributária, a reforma da Previdência, soluções conjuntas para favorecer investimentos na área energética e uma renegociação da dívida dos Estados, um tema em relação ao qual o PSDB deve ficar extremamente sensível: além de controlar São Paulo, o partido ainda terá o comando em 2007 de Minas Gerais, com Aécio Neves, e provavelmente do Rio Grande do Sul, onde a tucana Yeda Crusius é a favorita para ganhar a eleição no segundo turno. Os três Estados representam respectivamente a primeira, a segunda e a quarta maior dívida consolidada do país.

"A renegociação é inevitável, porque os Estados estão asfixiados e não há ativos disponíveis para serem vendidos e proporcionarem o reequilíbrio", comentou . Para Lembo, o fato de PT e PSDB disputarem a hegemonia nacional e terem seu centro político em São Paulo não impedirá a aproximação: "Isto é um mito, um raciocínio ingênuo. Os políticos são conduzidos pelos interesses da sociedade. A conciliação vai ter que acontecer".

Segundo Lembo, a "corrupção do mensalão" impediu que uma agenda comum fosse estabelecida entre governo e oposição durante o governo Lula. "O atual governo decidiu construir sua base política em torno de troca de favores com legendas menores. Mas agora a negociação terá que ser entre os partidos maiores. Os interlocutores do lado de lá também foram todos trocados, o que facilita o diálogo", disse.

A questão energética foi lembrada pelo governador em função da crise boliviana. "O processo político naquele país torna urgente a construção de alternativas para o gás natural e este é um tema que deve unir os Estados e a União", afirmou.

O governador excluiu um tema de um possível consenso entre governistas e a oposição: a reforma política. "Esta é uma fantasia que precisa ser desfeita. Existe uma medida pontual ou outra que pode ser discutida, mas não há uma reforma a ser feita", afirmou. Nas primeiras discussões da reforma política, o PFL se posicionou contra a mudança do sistema eleitoral para as eleições proporcionais, uma das principais medidas defendidas pelo PT.

A eleição de 2006 deixa o PFL extremamente fragilizado. Sua bancada na Câmara oscilou de 64 para 65 deputados, mas o partido perdeu o comando de Sergipe e da Bahia, sua principal base eleitoral, para o PT. Caminha para a derrota no segundo turno em Pernambuco e no Rio de Janeiro, onde apóia a candidatura de Denise Frossard (PPS) para o governo estadual. Em rota de colisão com a sigla, a senadora Roseana Sarney deve deixar o partido se ganhar o segundo turno no Maranhão. Neste cenário negativo, Lembo pensa que a seção paulista do partido ganhará relevância.

"São Paulo fica mais forte porque o partido tem a prefeitura, com Gilberto Kassab e conseguiu para o Senado a maior votação em números absolutos já obtida por um político do PFL, com seus 8 milhões de votos", afirmou Lembo, referindo-se ao ex-deputado Guilherme Afif Domingos, que perdeu para o senador Eduardo Suplicy (PT). "Foi uma derrota com sabor de vitória. O Afif poderá jogar um papel importante como dirigente do partido", disse.