Título: DEM arrecada per capita mais que PSDB e PMDB
Autor: Cunto , Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 17/09/2012, Política, p. A12

Partido que já foi a maior potência na corrida municipal, mas que sofre um processo paulatino de esvaziamento, o DEM surge nestas eleições como a terceira legenda que mais arrecadou recursos por candidato a prefeito. De acordo com a prestação de contas dos dois primeiros meses de campanha, o DEM recebeu R$ 49,2 mil - mais até que os dois partidos com maior número de prefeituras, PMDB (R$ 48 mil) e PSDB (R$ 48,9 mil).

De 2000 a 2008, o DEM foi a legenda que teve a maior queda no número de prefeitos: 51,8%, passando de 1.026 eleitos para 494. Definhou ainda mais com o racha que levou à criação do PSD pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, no ano passado. Atualmente, só tem um prefeito entre as 118 cidades com mais de 150 mil eleitores: Mossoró (RN).

Mesmo assim, só perdeu na arrecadação per capita para PT e PSB, partidos que mais cresceram nas últimas eleições municipais. Enquanto os petistas receberam R$ 54,8 mil, os candidatos do PSB levantaram R$ 57,7 mil cada. Os dados referem-se apenas a financiamento direto aos candidatos, sem levar em conta doações a comitês ou diretórios partidários.

O financiamento ao DEM surpreende diante de sua trajetória declinante nas eleições municipais. Em 2008, elegeu prefeito em apenas uma capital, embora a maior do país, com o hoje dissidente Kassab. Este ano, apostou suas maiores esperanças em três capitais, Fortaleza, Salvador e Aracaju - as duas últimas responsáveis por puxar a arrecadação da legenda.

Líder nas pesquisas de intenção de voto, com 39%, segundo o Ibope, o deputado federal ACM Neto, recebeu R$ 4,3 milhões na capital baiana. O ex-governador do Sergipe João Alves, à frente nas pesquisas com 51%, teve receita de R$ 1,4 milhão.

Outras candidaturas do DEM, no entanto, enfrentam dificuldades. No Rio de Janeiro, Rodrigo Maia arrecadou R$ 2,3 milhões, mas tem apenas 4% de intenção de voto. Marcelo Freixo (PSOL), com doações que somam R$ 429 mil, registrou 18% na pesquisa do Ibope. O líder isolado é o prefeito Eduardo Paes (PMDB), com 54%, que arrecadou R$ 6,9 milhões.

Em Fortaleza, Moroni Torgan estava à frente com folga, mas agora tem 23%, empatado tecnicamente com os apadrinhados da prefeita Luizianne Lins, Elmano de Freitas (PT), que tem 19%, e do governador Cid Gomes, Roberto Cláudio (PSB), 18%. Entretanto, o candidato do DEM está em desvantagem no financiamento: recebeu até agora R$ 820 mil, contra R$ 3,1 milhões do petista e R$ 5,2 milhões do pessebista. A arrecadação na capital cearense, coincidentemente, reflete as posições das três siglas no ranking nacional.

A liderança do PSB é impulsionada pelos esforços de crescimento nacional feito por seu presidente, Eduardo Campos, governador de Pernambuco e potencial candidato à Presidência da República. A legenda mostra mais uma vez seu poder de fogo, dois anos depois de ter sido a grande surpresa e eleger seis governadores em 2010.

Em cidades importantes, como Fortaleza, Recife e Belo Horizonte, o PSB rompeu com o PT, tornando estas eleições um duelo à parte entre as duas siglas. Devido ao apetite de Eduardo Campos para se cacifar ao Planalto, o partido foi o que mais cresceu no número de candidaturas a prefeito: lançou 1.043, 14% a mais que em 2008.

Considerado o principal partido municipalista, com a capilaridade de quem elegeu 1.199 prefeitos em 2008, o PMDB tem uma média de R$ 48 mil para cada um de seus 2.290 candidatos nesta eleição. A maior presença de pemedebistas em cidades pequenas explica, em parte, a arrecadação per capita do partido ser menor que a do DEM, que somou doações de R$ 36 milhões para seus 739 candidatos.

O grande número de pemedebistas concorrendo à prefeitura faz com que a legenda apareça como a que mais arrecadou em números absolutos: R$ 110 milhões. Por outro lado, foi o partido que mais utilizou o autofinanciamento. Em média, cada um dos candidatos do PMDB tirou R$ 12 mil do próprio bolso. Das grandes legendas, o PT foi o que menos usou esse tipo de expediente: R$ 6,9 mil por candidato.

No país inteiro, as doações do próprio bolso corresponderam a 22,8% dos R$ 616 milhões recebidos diretamente pelos candidatos a prefeito. A principal fonte de financiamento foram as pessoas físicas, que responderam por 26,2% do total.

O dinheiro doado diretamente por empresas representou 22,3% desse montante. Parte delas, entretanto, disfarça o financiamento ao dar o dinheiro para o partido ou comitês, que repassam a verba ao candidato, o que impede atrelar a origem do recurso à candidatura. Por esse artifício passaram R$ 151,8 milhões, ou 24,6% do total. As chamadas "doações ocultas" são mais comuns nas capitais, onde representaram 57,8% do volume de doações. (Colaborou Cristian Klein)