Título: Alckmin duvida de governabilidade de Lula
Autor: Ulhôa, Raquel e Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2006, Política, p. A9

Num dia de geração de fatos políticos pela campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência da República, como tentativa de reagir aos ataques do comitê adversário nesse segundo turno, o candidato tucano previu ontem que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva não terá condições de governabilidade, caso seja reeleito, por causa da antecipação do debate sucessório de 2010.

"Nossa proposta é de mudança. Já fui reeleito. Reeleição é um pouquinho mais do mesmo. Se o Lula fosse reeleito, com todo o respeito, (o governo) acabaria antes de começar. Já começa a discutir 2010 no dia seguinte. Para quê perder quatro anos? O nosso é o tempo da mudança, da velocidade", afirmou Alckmin, em debate com conselheiros da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), onde expôs seu programa de governo e respondeu a perguntas. Alckmin se comprometeu a lutar pelo fim do princípio da reeleição. "Não tenho a menor dúvida de que é melhor não tê-la", afirmou.

Alckmin passou menos de cinco horas em Brasília e, no último compromisso, vestiu camiseta e boné do Banco do Brasil, sob aplausos dos funcionários da instituição. Por cima, colocou jaqueta - preparada por sua assessoria - exibindo logotipos das estatais citadas por Lula e aliados como sujeitas à privatização num eventual governo tucano: Caixa Econômica Federal (CEF), Petrobras, Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e o próprio BB. O evento, palestra para servidores no BB na sede da associação nacional da instituição (Anabb), serviu para Alckmin negar de forma categórica que, se for eleito, tenha intenção de privatizar estatais, como tem sido disseminado pelos governistas.

"Quero desfazer um boato. Me até sinto constrangido, mas tenho de fazê-lo. Meu programa de governo tem 216 páginas, 30 capítulos e não tem uma linha que trate da privatização do Banco do Brasil", afirmou, sob aplausos dos servidores. Ele lembrou que passou 12 anos no governo de São Paulo e não privatizou a Nossa Caixa, um banco público. "São Paulo é um dos poucos Estados que têm banco público. Nossa Caixa não foi privatizada. Foi totalmente recuperada e cresceu. Meu adversário privatizou dois bancos públicos: no Maranhão e no Ceará", disse.

Na linha de rebater acusações da campanha adversária, Alckmin reafirmou compromisso de manter os programas de proteção social, lembrando que eles foram criados no governo Fernando Henrique Cardoso. Negou que pretenda acabar com a Zona Franca de Manaus e acusou o governo Lula de contingenciar os recursos previsto no Orçamento para Suframa. O senador Arthur Virgílio (PSDB-AM), aliado do candidato, divulgou ontem no Senado a minuta da medida provisória dos semicondutores, acusando o governo, em discurso, de prejudicar a Zona Franca de Manaus.

Entre um compromisso e outro, em Brasília, Alckmin recebeu representantes do setor agrícola do Mato Grosso e Goiás e parlamentares ligados ao setor, no comitê central. Os produtores foram manifestar apoio, numa reação à adesão a Lula pelo governador Blairo Maggi (MT) - o que levou à sua desfiliação do PPS, há dois dias. O partido apóia o tucano. "Viemos para deixar claro que o apoio do governador não significa apoio do setor", disse o senador Jonas Pinheiro (PFL-MT).

O presidente Lula foi convidado para participar de eventos semelhantes na OAB e na Anabb. No caso da OAB, recusou e foi criticado pelo presidente da instituição, Roberto Busato. Em entrevista, o presidente da OAB condenou "a divisão do país" entre ricos e pobres, que está marcando o segundo turno. Para ele, esse é um tema "explosivo" na campanha. Alckmin acusou Lula de estar estimulando essa divisão no país. "Ele está dividindo o Brasil. Esse não é o caminho. Como não tem projeto, fica criando boato e fantasia". Alckmin disse que um governo novo tem mais condições de fazer as reformas estruturantes, necessárias ao país, como a do sistema tributário e da política. Segundo ele, houve um "verdadeiro descalabro de natureza ética" e "uma grande promiscuidade entre o público e o privado" no governo Lula.

Os senadores Tasso Jereissati (PSDB) e Jorge Bornhausen (PFL) estiveram, ontem, na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) para pedir ajuda nas investigações do dossiê Vedoin. Os senadores de oposição também foram à sede da Polícia Federal, em Brasília. E, na terça, estiveram no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O objetivo da oposição é forçar as autoridades a acelerar as investigações sobre a origem do dinheiro apreendido com petistas e que seria utilizado na compra de um dossiê contra o então candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra.

"O que está acontecendo é que tem dinheiro de origem criminosa na mão de gente do PT para uso em campanha e que essa investigação está sendo prorrogada de uma maneira propositada para depois das eleições para que a população não vote consciente do que aconteceu com esse dinheiro", acusou Tasso.

Para o presidente da OAB, Roberto Busato, essa dúvida da oposição quanto ao empenho das instituições, em particular da Polícia Federal, nas investigações do dossiê ocorre por causa da reeleição. "Discute-se se elas estão trabalhando com fins político-partidário ou não", observou Busato. "Acho que esse instituto (da reeleição) é que propicia essa confusão na mente de todos, que questionam, até onde as instituições estão ao largo da disputa política ou não", ressaltou Busato.

Tasso, também, culpou a campanha de Lula pelo clima de divisão. "O presidente Lula tem jogado ricos contra pobres, pobres contra ricos, tentando dividir o Brasil e, com certeza, isso pode ter conseqüências", acusou o senador tucano.