Título: Comando quer campanha afirmativa
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Fonte: Valor Econômico, 19/10/2006, Política, p. A9

O aumento da vantagem do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, sobre o adversário Geraldo Alckmin (PSDB), mostrado pela pesquisa Datafolha divulgada na terça-feira, provocou uma sacudida no núcleo político da campanha de Alckmin, que se reuniu ontem para discutir como enfrentar a adversidade eleitoral. Alckmin ouviu defesas veementes dos aliados para mudar a estratégia do programa de televisão do horário eleitoral gratuito, tornando-o mais afirmativo nas propostas e mais claro ao mostrar a ineficiência e as "obras virtuais" do governo Lula.

Uma avaliação feita na reunião é que, mesmo que as pesquisas estejam erradas e não reflitam a vontade real do eleitor, sua divulgação provoca dois efeitos negativos à campanha: um psicológico - o risco de desanimar o eleitor - e um financeiro - podendo desestimular eventuais doadores da campanha. A conclusão é que a eleição não é fácil, mas ainda há chance de ser vencida.

Para o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), as acusações do PT sobre privatizações foram responsáveis pela queda de Alckmin nas pesquisas. O senador acredita que Alckmin voltará a subir nas pesquisas de opinião assim que for desmentida a questão da privatização.

Aos aliados, Alckmin apresentou uma versão para o possível esfriamento de sua candidatura. O motivo, segundo ele, seria a interrupção que houve na campanha, de mais de dez dias, entre o primeiro turno e o reinício da propaganda do horário eleitoral no rádio e na televisão. Nesse intervalo, a presença de Alckmin foi reduzida na mídia e Lula se manteve presente, com o espaço natural como presidente da República.

Na visão otimista apresentada pelo candidato, com a retomada do programa eleitoral, a situação será revertida. Os aliados, no entanto, defenderam que Alckmin mude o programa, apresentando propostas de governo mais claras e dados concretos que mostrem as supostas inverdades do governo Lula. Querem que o programa mostre que o governo petista foi o que menos investiu em 40 anos, que a taxa de desemprego do país ainda é uma das maiores do mundo, que o país cresceu em ritmo medíocre mesmo com um cenário internacional favorável e apresente os riscos de aumento de preços de alimentos provocado pela crise no setor agropecuário, por exemplo.

O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), disse que Alckmin deveria mostrar que Lula não irrigou um hectare sequer do Vale São Francisco, enquanto Fernando Henrique Cardoso irrigou 31 mil hectares, Fernando Collor de Mello e Itamar Franco, 7 mil hectares, e José Sarney, 21 mil hectares. Freire fez outra análise para o resultado da pesquisa. Segundo ele, havia uma expectativa no PT e nos meios políticos em geral de que o partido sairia enfraquecido das urnas, por causa do desgaste provocado pelas denúncias de corrupção que envolveram filiados. Isso não ocorreu.

O PT surpreendeu e elegeu uma boa bancada. Isso, somado ao "susto" pelo fato de Lula não vencer no primeiro turno, estimulou a militância petista a voltar aguerrida às ruas no segundo turno. Além disso, Lula decidiu fazer uma campanha agressiva e colocou ministros na ofensiva.

Segundo o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), o que mais surpreende a campanha é a diferença entre o "tracking" (pesquisa diária feita por institutos de pesquisa por encomenda da campanha) e o Datafolha. O "tracking" tem mostrado uma diferença de três e cinco pontos percentuais entre Lula e Alckmin. A mesma divergência entre as pesquisas internas e as divulgadas nos meios de comunicação aconteceu no primeiro turno. (JB e RU)