Título: Falta dinheiro para cortar emissões
Autor: Olesen, Alexa
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Internacional, p. A12

A China está preocupada com o aquecimento global, mas não tem dinheiro nem tecnologia para conseguir reduzir significativamente suas próprias emissões de gás, admitiu um dos mais qualificados cientistas do governo.

O país quer reduzir sua dependência em relação ao carvão, mas fazer uma conversão em grande escala para uma matriz energética mais limpa teria custos proibitivos para uma uma economia ainda em desenvolvimento como a chinesa.

O país também "está atrás da Europa e dos EUA" no que diz respeito à tecnologia necessária para uma queima mais limpa do carvão, disse ontem Qin Dahe, chefe do Centro Meteorológico da China e conselheiro do governo na área de mudança climática. O carvão representa 69% da produção de energia do país.

"Leva tempo para tirar o atraso", disse ele em uma entrevista coletiva. Qin foi um dos representantes chineses no painel da ONU que anunciou na semana passada que o aquecimento global "muito provavelmente" é efeito da atividade humana e que a mudança climática continuará por séculos.

Segundo Qin, a China concorda com a conclusão do documento e se preocupa com o tema, já que, assim como todo o mundo, enfrentará cada vez mais problemas com a elevação das temperaturas e aumento no nível dos oceanos.

Ele e mais um grupo de cientistas preparam uma recomendação para que a China invista mais em pesquisa e em observação dos padrões climáticos.

Segundo Qin, Pequim já estabeleceu como objetivo reduzir em 4% ao ano, pelos próximos cinco anos, os níveis de emissões de dióxido e outros gases.

O governo já tem um compromisso "muito sério" em cortar suas emissões e "já determinou firmemente a toda as regiões que cumpram as metas de reduções", disse ele. No entanto, o país não está obrigado por nenhum acordo internacional a diminuir o volume de poluentes na atmosfera. E além disso, já fracassou em relação a metas estipuladas há cinco anos.

No mês passado, a imprensa local noticiou que algumas regiões do país estavam sob suspeita de falsear dados sobre emissões de 2006. A divulgação de um estudo também em janeiro apontou que a mudança do clima poderá causar grande diminuição na produção agrícola do país nas próximas décadas. Na segunda metade deste século, a produção de trigo, milho e arroz cairá até 37%, enquanto as temperaturas poderão subir entre 2º C a 3º C daqui a 50 ou 80 anos.