Título: Chile é modelo de reforma administrativa no Equador
Autor: Uchoa, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Internacional, p. A13

Depois de ter recorrido à experiência argentina para assessorá-lo em sua dívida externa, o governo do Equador busca agora a assessoria do Chile para melhorar sua gestão pública. Uma missão da Chancelaria chilena esteve nos últimos dois dias em Quito para "trocar experiências" quanto à fusão de ministérios e à eliminação de burocracia.

O presidente Rafael Correa definiu que o Estado vai passar por uma reestruturação do sistema de administração pública, a começar pela fusão do Ministério do Comércio Exterior com a Chancelaria equatoriana. Por isso o recurso à assessoria chilena. A assessoria argentina para a dívida acabou se transformando num moderado conselho para negociar, e não para a adoção de medidas drásticas como a moratória.

A chanceler equatoriana, María Fernanda Espinosa, teria feito o pedido de assessoramento diretamente ao chanceler do Chile, Alejandro Foxley, por considerar que o modelo chileno de comércio exterior é um dos mais eficientes da América do Sul.

O novo ministério unificado terá de cuidar de assuntos essenciais para o país, como a discussão do regime europeu de importação de bananas - principal produto de exportação do Equador depois do petróleo - e das relações com a CAN (Comunidade Andina de Nações, que reúne também Colômbia, Peru e Bolívia) e o Mercosul.

Apesar de considerar que a simplificação da burocracia possa ser útil para o comércio exterior do país, o cientista político Antonio Miranda, da consultoria Active, afirma que falta ao Equador uma série de reformas para que possa achar novos nichos de mercado. "Não adianta só simplificar a burocracia se não há uma política que favoreça as exportações. A Colômbia, por exemplo, saiu na frente dando incentivos fiscais aos grandes plantadores de rosas. Os plantadores equatorianos não têm como competir com seus vizinhos", analisa.

"E isso tudo sem falar na dependência do mercado americano. O exemplo do Chile poderia ser levado em conta também na diversificação de mercados", diz Miranda.

Mais de 50% das exportações equatorianas vão para os EUA - basicamente petróleo e banana. Já o Chile exporta 15% de seus produtos para os EUA; 11% para a China; 11% para o Japão; 6% para a Holanda; 5,5% para a Coréia do Sul; 4,5% para o Brasil; 4,2% para a Itália; 4% para o México. Além do cobre, o carro-chefe das exportações chilenas, são importantes na pauta frutas, vinhos, papelão e químicos.

Esses problemas estruturais, segundo o presidente, têm de ser discutidos numa ampla reforma constitucional, o que ele vem propondo desde a campanha. O Congresso deve discutir hoje o tema da consulta popular convocada pelo presidente Rafael Correa para convocar uma Constituinte.