Título: Para Kirchner, críticas ao IPC têm viés político
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Internacional, p. A13

O presidente da Argentina, Néstor Kirchner, defendeu a decisão de seu governo de trocar a direção do instituto nacional de estatísticas, Indec, responsável pelo cálculo da inflação do país. Críticos do governo disseram que as mudanças comprometeriam a independência do instituto e a confiabilidade dos dados. Funcionários do próprio Indec foram mais além e disseram que a medida teria por fim manipular os dados inflacionários.

"Analistas e economistas que criticaram os dados [de inflação divulgados anteontem] estão sendo pagos por outros interesses políticos. E todos sabemos o que eles fizeram enquanto estiveram no governo", disse Kirchner.

A tentativa do presidente em controlar a inflação é uma das peças-chave de sua campanha de reeleição no pleito presidencial de outubro deste ano.

A nova direção do Indec é mais afinada com o presidente e, segundo os críticos, escolheu usar um método de aferição inflacionária que beneficiaria uma leitura mais branda do IPC (índice de preços ao consumidor).

O Indec divulgou que o IPC de janeiro ficou em 1,1%. Mas o instituto não contabilizou as mudanças no setor de seguro de saúde, que, caso contabilizadas, levariam o o índice a 2,1%.

De acordo com Daniel Fazio, do principal maior sindicato que representa os trabalhadores do Indec, os funcionários do instituto podem entrar em greve hoje mesmo como forma de protestar contra as mudanças.

"O modo como o governo tratou o assunto foi muito negativo para o país", disse Rodrigo Alvarez, economista da Ecolatina, empresa de pesquisas baseada em Buenos Aires. "Houve muito pouca transparência, o que deu bastante espaço para suspeitas totalmente justificáveis."

O mercado reagiu mal em relação à questão. O peso caiu e os títulos indexados à inflação, com vencimento previsto para 2033, subiram 0,04 ponto percentual.

Cerca de 40% da dívida total da Argentina é indexada à inflação.