Título: Ação do BC no câmbio tem pouco efeito
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Fonte: Valor Econômico, 17/09/2012, Finanças, p. C2

A queda do dólar na sexta-feira, mesmo após dois leilões de swap cambial reverso (que equivale à compra de moeda americana no mercado futuro) promovidos pelo Banco Central, sugere que pode ser hora de a autoridade monetária mudar de arma em sua cruzada contra a valorização do real excessiva, dizem agentes de mercado.

Mesmo mantendo a moeda americana dentro da banda informal - entre R$ 2 e R$ 2,05 -, o BC não conseguiu blindar totalmente o câmbio brasileiro da euforia externa com a nova rodada de estímulo econômico anunciada pelo Federal Reserve na semana passada. Os leilões, na prática, apenas evitaram uma queda maior do dólar, acompanhando a tendência de desvalorização da moeda americana no exterior. "Se não fossem os leilões, o dólar teria caído ainda mais", disse Mario Paiva, analista de câmbio da BGC Liquidez.

Na sexta, o dólar fechou em baixa de 0,4%, cotado a R$ 2,011, ligeiramente acima da mínima do dia, de R$ 2,009. Mesmo com três intervenções na semana, a moeda americana acumulou baixa de 0,89% no período.

Ainda assim, a queda na demanda entre o primeiro e o segundo leilões realizados na sexta-feira sugere que está se aproximando a hora de o BC utilizar outra arma de seu arsenal de política monetária. "Todos esses leilões acabam saturando um pouco o mercado de swaps", disse Reginaldo Galhardo, gerente de câmbio da Treviso Corretora.

No primeiro leilão de sexta, o BC vendeu 35,7 mil dos 36 mil contratos que ofereceu. No segundo, conseguiu colocar apenas 7,4 mil dos 70 mil ofertados. "Por enquanto ainda há demanda, mas em algum momento, isso vai ter de mudar. Logo, o BC terá de atuar no mercado físico, porque a tendência é começar a sobrar dólar físico", disse Galhardo.

Além de segurarem a cotação da moeda americana, as intervenções do BC contribuem para inibir entradas mais volumosas de recursos, ao espantar investidores estrangeiros, mais avessos a qualquer tipo intervenção no câmbio. Mesmo assim, o mercado aposta em aumento do fluxo de capitais para o Brasil, independentemente da atuação do BC, na esteira da injeção de dinheiro do Fed.

A expansão no ritmo de entrada de recursos no país não será imediata e tende a se acelerar à medida que investidores estrangeiros desmontam as posições conservadoras e defensivas. Isso deve impulsionar a valorização do real e colocar pressão sobre o BC, que terá de atuar ainda mais caso queira defender o piso da banda informal.

Na BM&F, os juros mostraram o desconforto dos investidores com a combinação formada por recuperação econômica e pressões inflacionárias.

"A disposição do governo de prorrogar as isenções fiscais em setores com elevado impacto multiplicador e os resultados melhores da produção do PIB agropecuário a partir do segundo trimestre configuram um cenário de que já neste terceiro trimestre o crescimento dessazonalizado ficará na linha do potencial", afirma o economista-chefe da Planner Prosper Investimentos, Eduardo Velho.

Os agentes pedem mais prêmio para assumir riscos nesse cenário de maior incerteza. A diferença entre o contrato DI de janeiro de 2014 e o DI de janeiro de 2014 saiu de 1,27 ponto percentual para 1,50 ponto percentual - a mais elevada desde o dia 5 de julho. A curva de juros na BM&F projeta agora queda de 0,09 ponto da taxa básica na reunião do Comitê de Política Monetária do próximo mês, ou seja, mais de 50% de chance de a taxa básica ficar estável em 7,5% ao ano - depois que o mercado chegou a precificar um corte integral de 0,25 ponto no início deste mês.