Título: Cresce fatia dos bancos nas remessas de latinos dos EUA
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2006, Internacional, p. A11

Os bancos aumentaram de forma significativa sua participação na remessa dos bilhões de dólares que imigrantes latino-americanos que trabalham nos EUA mandam todos os anos para suas famílias, segundo um estudo apresentado ontem pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Os bancos participaram de 19% das remessas efetuadas no ano passado, avançando sobre um mercado que ainda é dominado por pequenas empresas especializadas em transferências desse tipo. Dois anos atrás, os bancos só haviam se envolvido com 8% das operações, de acordo com o levantamento do BID.

"Muitas pessoas que recebem esses recursos não têm acesso a crédito ou serviços financeiros que poderiam ajudá-las a aproveitá-los melhor", disse o presidente do BID, Luis Alberto Moreno, ao divulgar o estudo. "O envolvimento dos bancos nesse processo seria um estímulo para o desenvolvimento da região."

O BID prevê que imigrantes latino-americanos enviarão US$ 60 bilhões para casa neste ano, dos quais US$ 45 bilhões sairão dos EUA. É mais do que o volume de recursos que a região receberá por meio de investimentos estrangeiros e empréstimos, estimado em US$ 38 bilhões pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês).

Brasileiros que vivem nos EUA deverão enviar US$ 7 bilhões para seus parentes, 10% mais do que mandaram no ano passado, calcula o BID. Mas o impacto dessas transferências no país é bem menor do que em outras partes da região. Apenas 2% das famílias brasileiras recebem alguma ajuda dessa forma. No México, 17% das famílias são beneficiadas por remessas vindas dos EUA.

A participação dos imigrantes na força de trabalho americana tem avançado, reflexo do poder de atração exercido pela economia dos EUA e sinal da ausência de oportunidades em países como o Brasil, que têm crescido num ritmo abaixo da média mundial.

Isso tem ajudado a manter de pé vários setores da economia americana que se tornaram dependentes do trabalho imigrante, como a construção civil, a agricultura e a indústria do turismo. Mas as remessas também ajudam a injetar dinamismo nos países que recebem esses recursos, e instituições como o BID estão preocupadas em tornar mais produtivo o uso desse dinheiro.

"Precisamos encontrar maneiras de ajudar essas pessoas a alavancar os recursos que recebem", disse Donald Terry, gerente do Fundo Multilateral de Investimentos (MIF, na sigla em inglês), braço do BID que desenvolve com bancos e organizações não-governamentais projetos de pequena escala para explorar oportunidades que as remessas criam na região.

O estudo do BID, baseado em entrevistas com 2,5 mil imigrantes e seus parentes, sugere que este é um mercado em que as instituições financeiras mal começaram a se aventurar. Apenas 49% dos imigrantes têm conta bancária nos EUA. Muitos preferem guardar o dinheiro embaixo do colchão, mesmo entre os que vivem legalmente no país.

Quando os pesquisadores do BID perguntaram o que eles fariam se tivessem um banco interessado em lhes oferecer seus serviços, 47% disseram que gostariam de comprar planos de saúde e seguros de vida. Empréstimos para aquisição ou construção da casa própria despertaram igual interesse. Um terço dos entrevistados também gostaria de obter crédito para abrir o próprio negócio ou pôr os filhos para estudar na faculdade.

O estudo do BID está disponível em www.iadb.org/mif/remittances