Título: Fundos de pensão têm ganhos recordes
Autor: Vieira, Catherine
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Finanças, p. C8

Os juros reais ainda robustos e a bolsa no quarto ano consecutivo de alta garantiram superávits bilionários e muitas alegrias para os fundos de pensão. Mas para apresentar bons resultados daqui para frente será preciso ser mais criativo. Fundos como a Funcef, Petros e Valia já estão arregaçando as mangas e neste início de ano por exemplo, foram as compras no mercado de ações, aproveitando os momentos de baixa do sobe-e-desce de janeiro, além de oportunidades nas ofertas de novatas na bolsa. Além das ações, eles estão de olho em fundos de participações, de recebíveis e ativos com lastro no setor imobiliário (como o CRI), além de projetos de infra-estrutura.

Levantamento das consultorias NetQuant e Towers Perrin com 70 fundos de pensão revela que esse movimento, que deve se intensificar agora, começou em 2006. No ano passado, o percentual médio aplicado em renda variável subiu de 15,3% para 19,3%. Já na renda fixa, a participação dos títulos pós-fixados, os mais conservadores, teve uma redução de 18,6 pontos percentuais para 51,1%. Nos pré-fixados aumentou de 8,4% para 17,7%.

A Funcef, por exemplo, aproveitou a volatilidade e os momentos de baixa na Bovespa em janeiro para engordar em R$ 300 milhões sua carteira de ações. "Deslocamos valores da renda fixa para aumentar a exposição na renda variável pois avaliamos que os momentos de baixa em janeiro foram uma oportunidade", diz o diretor de finanças, Demósthenes Marques.

As novas aquisições significaram um acréscimo de cerca de 15% da carteira líquida de ações, que era de R$ 2 bilhões antes das compras no mercado. A carteira total de renda variável da fundação, porém, era de R$ 5,8 bilhões (incluindo as participações em bloco) e com o movimento deste início de ano superou os R$ 6 bilhões. O fundo também deve fazer aportes esse ano de R$ 700 milhões que já tinham sido aprovados para vários fundos de participações, principalmente os que investem em infra-estrutura.

Também a Petros decidiu aproveitar as oscilações da bolsa e acelerou a aquisição de papéis. Entre os destaques está a compra de ações da empresa do setor de autopeças Iochpe Maxion, da qual a Petros já chega a ter 5% das ações preferenciais. Esse movimento foi apenas um sinal da disposição para aumentar a carteira de renda variável. O fundo de pensão dos petroleiros, segundo maior do país, também é um dos principais investidores dos fundos de participação (FIPs) em infra-estrutura que devem começar a fazer seus investimentos nos projetos a partir desse ano e devem receber aporte de R$ 900 milhões da fundação.

Na Fundação Cesp, maior fundo de pensão patrocinado por empresas da iniciativa privada, a carteira de ações dobrou de tamanho em 2006: passou de 8% para 15% da carteira de investimento, um aumento de mais de R$ 500 milhões.

Segundo Jorge Simino, diretor de investimentos da Funcesp, o fundo não planeja nova expansão na renda variável em 2007. Um dos projetos é se desfazer da carteira de imóveis, de R$ 250 milhões, e continuar investindo no setor por outros meios, como os fundos imobiliários e os CRIs. Na renda fixa, o fundo teve bons retornos com aplicações em fundos multiíndices. A fundação fechou 2006 com rentabilidade recorde de 18,3% e superávit de R$ 924 milhões.

Mas a disputa por papéis no mercado também tem feito com que os investidores nem sempre consigam comprar tantos papéis quanto gostariam. Esse foi o caso, por exemplo, da Valia, fundo de pensão da Vale do Rio Doce, que pretende elevar sua parcela de renda variável para até 35% do total. No fim do mês passado, o fundo tentou comprar R$ 25 milhões na oferta inicial de ações da construtora Tecnisa, mas só conseguiu levar R$ 2 milhões. "Nesse cenário de queda de juro, vamos ter que ficar atentos a outras oportunidades", diz o diretor-superintendente do fundo, Eustáquio Lott. Além de ações de companhias listadas, eles estão de olho nos fundos de infra-estrutura, de direitos creditórios e imobiliários.

Nem todos porém, vão aumentar a parcela de ações. A Previ, fundo de pensão do Banco do Brasil, que já possui patrimônio de mais de R$ 100 bilhões e superávit estimado em cerca de R$ 30 bilhões é um deles. Esse bom resultado decorre justamente do fato de a Previ ter uma parcela muito maior do que a média dos fundos aplicada na renda variável, cerca de 60%. Por conta disso, o fundo, na contramão dos demais, precisa reduzir sua exposição ao mercado de ações, para se enquadrar nas regras do setor.

Um fundo que também está reduzindo a parcela de renda variável é a Centrus. Por estar numa fase de maturidade, ou seja, de pagamento de benefícios, o fundo dos aposentados do Banco Central tem optado por comprar apenas títulos públicos federais, principalmente as NTN-Bs, que são atreladas ao IPCA. Outra que também vem priorizando a renda fixa por motivos semelhantes é a Sistel.

O fundo tem hoje 70% em renda fixa e pretende continuar nessa linha, buscando papéis mais longos. "Fizemos um estudo para casar o fluxo de caixa com os compromissos para buscar a melhor carteira e não ter nenhum tipo de problema no futuro", disse Carlos Alberto Cardoso, diretor de investimentos da Sistel.