Título: Lula aumenta vantagem com Alckmin na defensiva
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2006, Opinião, p. A12

As últimas pesquisas eleitorais registram um aumento na distância entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), na disputa pelo próximo mandato presidencial. Os dezenove pontos de vantagem abertos por Lula sobre o candidato tucano - ou 20, se considerados os votos válidos -, a pouco mais de dez dias das eleições, tornam quase uma impossibilidade a virada no jogo eleitoral, embora não se possa duvidar da capacidade auto-destrutiva do PT. Depois de ter ganhado a chance de um segundo turno quase na boca da urna do primeiro turno, Alckmin perdeu o fôlego. Existem razões para isso.

A mais evidente é que o candidato tucano, que havia resistido a uma campanha de denúncias no primeiro turno - apesar da insistência do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do cardinalato do PSDB e do PFL - rendeu-se a ela no segundo, empolgado pela arapongagem petista que, nas vésperas do 1º de outubro, foi presa à espera de um dossiê do empresário sanguessuga Luiz Antonio Vedoim, e de posse de uma dinheirama, em um hotel em São Paulo. Logo após o primeiro turno já era possível ver, pelas pesquisas, que a trapalhada petista teve mais efeito positivo sobre a candidatura tucana do que a nova imagem de Alckmin, que foi agressivo no debate na TV Globo. Logo após o debate, as assessorias dos dois candidatos dispunham de pesquisas qualitativas que atestavam quase um espanto - para não dizer um incômodo - dos eleitores tucanos com o comportamento de seu candidato.

Após a demonstração televisiva da nova personalidade, Alckmin manteve, simultaneamente, dois comportamentos: um, ofensivo, quando fala da "companheirada" do PT e faz o seu discurso ético; e outro defensivo, quando tenta dizer alguma coisa de seu programa de governo. O fato é que essa mistura resultou em um discurso excessivamente negativo: Alckmin nega qualidades éticas no adversário; nega que vá fazer o mesmo que FHC - e o que ele próprio fez - quando o tema é privatização; nega que vá acabar com os programas sociais do governo Lula (entre eles o Bolsa Família e o PróUni). O discurso positivo do tucano se resume ao que fez como governador de São Paulo, dando um cunho excessivamente regional e "paulista" à sua postulação presidencial - abrindo outro flanco para o ataque de seu rival petista. Exageros e inverdades lançadas pelo PT conseguiram colocar o candidato tucano na defensiva total.

Pesa também contra o candidato o fato de não parecer ter convicções firmes e próprias a respeito do que entende como "projeto de crescimento". Alckmin conseguiu embutir até na sua proposta econômica o conceito de que tudo se resume a uma postura ética. Ela é importante, é óbvio, mas o tucano passa para o eleitor uma excessiva simplificação do que seria um país sob o seu comando. Neste particular também é excessivo em negativas: não vai cortar gastos correntes na magnitude que o economista Yoshiaki Nakano, seu coordenador de programa, disse; não vai debater formas de controle do câmbio. Os "nãos" apenas seriam respostas se fossem acompanhados de propostas claras para a economia crescer e o país melhorar, e de um projeto que o diferencie do governo petista, ou mesmo dos governos tucanos de FHC.

Além disso, se Lula tem um partido atrapalhado, Alckmin não dispõe de um melhor. Para o tucano, seria muito melhor um afastamento do ex-presidente FHC da disputa - e essa era quase uma urgência quando entrou na defensiva por conta da "acusação" petista de que privatizaria estatais. FHC continua dispondo de uma exposição privilegiada. Uma maior adesão do governador eleito de São Paulo, José Serra, poderia ter reduzido sua queda no Sudeste. Se existe um empenho de Serra na sua candidatura, ele não é visível aos olhos dos mortais. E o ímpeto eleitoral exibido pelo PSDB como um todo depois do primeiro turno parece se exaurir. Na verdade, o PSDB já está envolvido numa luta interna surda pelo comando partidário, que por sua vez antecede a disputa pela legenda para a eleição de 2010 para a Presidência da República. Alckmin é parte dessa disputa, embora ela agora não o beneficie.

O problema da campanha de Alckmin não é a cobertura da imprensa, como ele reclamou anteontem, no Rio. O problema de Alckmin foram suas estratégias de convencimento do eleitor. E o seu próprio partido.