Título: Líder ameaça faltar a debate da Igreja
Autor: Cunto , Raphael Di
Fonte: Valor Econômico, 19/09/2012, Política, p. A13

Em meio ao embate entre a Igreja Católica e a Igreja Universal do Reino de Deus na sucessão municipal em São Paulo, o candidato do PRB, Celso Russomanno, ameaçou faltar ao debate que será promovido pelos católicos amanhã. Russomanno vinculou sua participação a uma conversa com o cardeal arcebispo dom Odilo Scherer antes do evento, mas a resposta do católico foi lacônica: o arcebispo disse que sua agenda está "sobrecarregada" e que atenderá o candidato "assim que possível".

O candidato do PRB, cujo partido é vinculado à igreja neopentecostal, disse que só participará do debate se combinar as regras com o arcebispo. "[O arcebispo] tem que me conhecer mais de perto e saber quem eu sou. Quando a gente fala alguma coisa sobre alguém a gente precisa conhecer essa pessoa. Estou dando a ele [dom Odilo] a oportunidade de me conhecer mais de perto", afirmou Russomanno a jornalistas, depois de uma caminhada na zona oeste.

O candidato disse que sua agenda está "carregada" e que "tenta abrir uma vaga" para falar com o cardeal.

A resposta de dom Odilo não garantiu o encontro antes do debate. Segundo a assessoria de imprensa da Arquidiocese de São Paulo, o arcebispo afirmou que estuda "atender Russomanno tão logo seja possível".

O mal-estar entre as igrejas católica e neopentecostal foi reforçado depois que a Arquidiocese de São Paulo divulgou nota atacando a Igreja Universal e o coordenador da campanha de Russomanno, Marcos Pereira, bispo licenciado e presidente do PRB. No documento, dom Odilo criticou Pereira por disseminar posições "desrespeitosas" sobre os católicos. Foi uma resposta a um texto publicado pelo presidente do PRB no qual vinculou aos católicos à proposta de distribuição do "kit gay".

No domingo, o arcebispo disse, durante missa, que a Igreja Católica está sendo ameaçada. A arquidiocese determinou a padres que lessem nas missas o artigo de dom Odilo com críticas à campanha do PRB e à "manipulação política da religião".

Russomanno evitou polemizar o embate entre as duas igrejas. Ontem, prometeu aumentar a verba para educação e sinalizou com um aumento salarial para os docentes. Para elevar a verba da educação, disse que vai retirar o Leve Leite e a distribuição de uniforme escolar da Pasta e transferirá esses programas para a Assistência Social. "Vou retirar do orçamento da educação coisas que não deveriam estar lá, como a distribuição de uniformes e o Leve Leite. São trabalhos sociais. Na educação temos 31% da verba do município e vou empregar isso na educação", afirmou, em entrevista a jornalistas.

O candidato não disse se aumentará a verba para assistência social. Informou apenas que a arrecadação da prefeitura aumentará com a cobrança dos inadimplentes com a prefeitura, de uma dívida estimada em R$ 55 bilhões. "O governo é incompetente para cobrar. Se a gente trouxer 10% desse valor, serão R$ 5 bilhões a mais para saúde, educação segurança, transporte coletivo".

A ampliação dos recursos para educação só seria feita no segundo ano do mandato. "No primeiro ano vamos recuperar o que o município tem a receber. Quanto mais recuperar, mais poderá gastar".

O candidato acenou com um reajuste salarial aos professores, quando questionado se adotará a meritocracia, mas não informou o impacto sobre as finanças municipais. Russomanno declarou que acabará com a progressão continuada e prometeu internet gratuita para a periferia.