Título: Investidores estrangeiros estão 'vendidos' em US$ 12 bi na BM&F
Autor: Sérgio, Luiz
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Finanças, p. C2

Os investidores estrangeiros assumiram posições "vendidas" em dólar nos mercados futuros da BM&F de US$ 12,02 bilhões, segundo a última posição oficialmente conhecida, referente ao dia 5. As posições "vendidas" são apostas feitas na queda do dólar. Quanto mais a moeda americana cai em relação ao real maior o ganho do apostador. Os estrangeiros, sobretudo fundos de investimentos, estão "vendidos" tanto no mercado futuro de dólar quanto no de cupom cambial. No primeiro, a posição é vendida em US$ 7,31 bilhões. E, no segundo, de US$ 4,71 bilhões. Apenas nos três primeiros dias úteis de fevereiro, a posição vendida dos estrangeiros cresceu US$ 1,77 bilhão, já que fechou janeiro em US$ 10,25 bilhões. O total vendido se aproxima rapidamente do volume recorde alcançado há um ano. Em fevereiro de 2006, os estrangeiros assumiram contratos líquidos de venda no valor de US$ 15 bilhões.

Tesoureiros explicam que o movimento do capital estrangeiro é cíclico. Em novembro e dezembro, os fundos externos reduzem as apostas de queda do dólar e valorização do real para minimizarem o risco de suas carteiras na virada do ano. E retomam esse posicionamento a partir de fevereiro. No início de novembro passado, a posição externa vendida caiu de fato a US$ 7 bilhões.

Se algum investidor esta "vendido" a futuro, algum outro precisa tomar a ponta oposta, caso contrário não haverá negócio. A ponta contrária é assumida agora pelos bancos nacionais. Pela mesma posição oficial do dia 5, as instituições brasileiras carregam posições "compradas" totais de US$ 11,41 bilhões, sendo US$ 8,93 bilhões no pregão de dólar futuro e US$ 2,48 bilhões em cupom cambial. As apostas "compradas" são as de que o dólar irá subir. Como o dólar só cai desde que o Federal Reserve (Fed) sinalizou que não irá subir o juro e desde que o Copom do Banco Central decidiu frear a queda da Selic, em tese os bancos nacionais estariam perdendo dinheiro nos mercados de derivativos e estariam muito interessados em reduzir ou zerar essas posições. Não é isso o que acontece. Um banco brasileiro não assume riscos cambiais ao se posicionar na ponta ativa do mercado. Está fazendo, na verdade, o papel lucrativo de contraparte de uma posição passiva. A posição de compra pode ser a face interna de um posicionamento vendido no mercado internacional de balcão. Ou então espelhar um hedge feito por empresa não-financeira. Ou seja, o banco brasileiro não perde dinheiro com sua posição comprada. Caso perdesse, iria defendê-la com unhas e dentes e o dólar iria parar de cair.

É por isso que as posições compradas dos bancos não são diminuídas a despeito do tombo sofrido pelo dólar, de 2,02%, desde a última reunião do Copom, dia 24. No último dia de janeiro, a diferença entre os contratos de compra e de venda atingia US$ 11,23 bilhões comprados e estava no dia 5 em US$ 11,41 bilhões. Não procedem portanto notícias segundo as quais o dólar à vista iria cair muito mais do que já caiu porque os bancos irão "desovar US$ 10 bilhões" de suas posições compradas. As posições de compra mantidas nos mercados futuros não podem ser confundidas com as registradas à vista no Banco Central. Nestas, os bancos estão "vendidos" em mais de US$ 3 bilhões.

Os executivos acreditam que o BC não está atuando vigorosamente para conter a queda do dólar no mercado à vista pois ela resulta de um movimento sazonal de investidores estrangeiros no mercado futuro. O BC teria totais condições de brecar o declínio do dólar, se desejasse. Segundo o economista-chefe da Grau Gestão de Ativos, Pedro Paulo B. da Silveira, bastaria para tanto atuar mais agressivamente na compra de moeda por meio dos seus leilões diários. "Nenhum movimento futuro consegue ir contra uma determinação da autoridade monetária", diz Silveira.

Ele lembra que é muito mais fácil ao BC conter o movimento de baixa do dólar do que inibir o de alta. No primeiro caso, ele ganha reservas internacionais, no segundo, perde. Para o economista, o BC não está nem um pouco preocupado com o constrangimento fiscal de suas intervenções cambiais. A restrição fiscal resulta da diferença de rentabilidade entre o que o governo paga para comprar dólares (13% ao ano) e o que recebe da aplicação das reservas (5,25%).