Título: Para BC, queda do risco explica dólar baixo
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 07/02/2007, Finanças, p. C2

A taxa de câmbio que ensaia um novo patamar, abaixo de R$ 2,10 (ontem ela fechou em R$ 2,0860), não decorre do diferencial de taxas de juros interna e externa, que estaria, mais uma vez, atraindo capitais especulativos ao país. Os dados não confirmam essa versão e sugerem que o principal impulso para a valorização do real é a melhora na percepção de risco, aumento dos preços internacionais das commodities e a acomodação da taxa de juros americana.

Um gráfico apresentado repetidas vezes pelo Banco Central, e atualizado até as mais recentes reuniões do Comitê de Política Monetária (Copom) e do Federal Reserve (Fed), mostra que a diferença entre os juros internos e externos caiu de 15,5 para 7,75 pontos base entre dezembro de 2003 e janeiro de 2007. No período, tanto o BC brasileiro reduziu a taxa Selic quanto o BC americano elevou os juros básicos. O swap de 360 dias, indicador do juros internos, caiu de 12,43% para 12,31% ao ano em um mês. Os analistas econômicos baixaram semana passada a projeção de juros para o fim de ano de 11,75% para 11,5% ao ano. Os juros internacionais, expressos pela Libor de um ano, subiram de 5,24% para 5,40% em um mês.

Esses elementos é que subsidiam o debate no governo sobre a eventual tendência de uma nova apreciação da taxa de câmbio. Nesse sentido, como disse um ministro ao Valor, não faz o menor sentido o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, tentar pressionar o BC para que este artificialmente interrompa o processo de apreciação do real frente ao dólar.

A avaliação do BC, algumas vezes reiterada, é que a taxa de câmbio real está se movendo para um novo equilíbrio. O discurso é que melhorou a percepção de risco do Brasil, e isso associado a um "choque" nos termos de troca (ou seja, alta de preços de produtos exportados em relação aos importados) também reforça a apreciação da moeda. De março de 2006 até agora houve melhora nos termos de troca de 8,5%. Portanto, isso foi um choque favorável. O risco-Brasil, que encerrou janeiro em 190 pontos base, testou novas mínimas nos últimos dias - ontem, rondou os 178 pontos. Algumas "commodities" exportadas pelo Brasil, como a soja, estão registrando as mais altas cotações em um ano e meio.

Não se sabe se esse novo cenário veio para ficar - provavelmente parte dele, ligada à melhora do risco Brasil, é permanente. Mas há uma parte - que ajuda o conjunto de economias emergentes - que depende do acerto das previsões dos mercados internacionais sobre a economia americana.

O BC tem sustentado ao longo dos últimos anos que não é possível controlar a taxa real de câmbio. Se há melhora no risco-país e nos termos de troca, a taxa real se aprecia de duas formas. Uma delas, que vem ocorrendo no Brasil, é por meio da apreciação da taxa nominal. O outro modelo, que foi adotado na Argentina, é o BC tentar segurar o câmbio nominal, que é em seguida corroído pela inflação.

Isso não significa que não haja nada a fazer. O BC já acumulou cerca de US$ 92,3 bilhões em reservas cambiais até o dia 5 deste mês e continuará comprando dólares para suavizar as volatilidades da taxa, evitando movimentos de alta ou queda bruscos.

Embora não negue que tenha havido uma apreciação, o BC vem ponderando que ela é menor do que a alardeada - principalmente se a taxa de câmbio for comparada com a sua média histórica.

Periodicamente, o BC divulga uma tabela que calcula a taxa de câmbio efetiva, ponderada pela cotação das moedas dos 15 maiores parceiros comerciais do país. Pelo índice, que usa uma base 100 em junho de 1994, quanto menor o número, mais apreciada a taxa. Por esse indicador, o câmbio real efetivo se encontrava em 98,7 em dezembro de 2006, não muito diferente do índice de 102 de dezembro de 2000. Ou seja: embora o risco-país tenha despencado e os termos de troca se tornado muito favoráveis, o câmbio efetivo ficou estável no período, quando o natural seria uma apreciação.