Título: Copom reduz taxa Selic a 13,75%
Autor: Ribeiro, Alex e Bautzer, Tatiana
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2006, Finanças, p. C1

O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central voltou a cortar ontem em 0,5 ponto percentual os juros básicos da economia, de 14,25% para 13,75% ao ano, na 11ª redução desde o início do atual ciclo de afrouxamento da política monetária, em setembro de 2005.

A decisão ficou dentro da expectativa mediana dos analistas econômicos e se deve, em boa medida, aos indicadores favoráveis de inflação divulgados nas últimas semanas e aos sinais de fraco crescimento da economia.

O próprio BC teve que se convencer, nas últimas semanas, de que havia espaço para uma política de juros menos conservadora. Na ata da última reunião, ocorrida em agosto, e no relatório de inflação de setembro, o BC transmitiu o recado de que a manutenção do ambiente de inflação sob controle poderia "demandar que a flexibilização adicional da política monetária seja conduzida com maior parcimônia". Esse foi, por sinal, um recado transmitido nas duas últimas reuniões, mas o BC acabou se rendendo aos indicadores favoráveis e manteve o ritmo de corte de 0,5 ponto nas reuniões.

Emiliano Capozoli/Valor Érico Ferreira, presidente da Acrefi: corte já foi incorporado ao crédito

A perspectiva de uma possível desaceleração nos cortes de juros, porém, continua a se aplicar à próxima reunião, marcada para os dias 28 e 29 de novembro. A previsão mediana dos analistas é um corte de apenas 0,25 ponto percentual, para 13,5% ao ano, neste que será o último encontro do Copom em 2006.

Na breve nota que divulgou logo após a reunião de ontem, o Copom não inseriu nenhuma palavra capaz de alterar essa expectativa do mercado. "Avaliando o cenário macroeconômico e as perspectivas para a inflação, o Copom decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 13,75% ao ano, sem viés", afirma o comunicado, que mantém praticamente o mesmo texto usado na reunião de agosto. Até julho, o Copom usou um texto padrão que, embora também curto, referia-se a um "processo de flexibilização da política monetária", o que transmitia a idéia de que um ciclo de corte de juros com várias etapas pela frente. O texto divulgado nas duas últimas reuniões deixa claro que novos cortes de 0,5 ponto percentual não devem ser dados como algo líquido e certo e que, a cada reunião, será reavaliado o cenário macroeconômico para decidir a dosagem.

Nos seus documentos oficiais, o BC justifica essa postura de cautela com o argumento de que, após uma forte redução dos juros (que chegou a seis pontos percentuais com a decisão de ontem), será necessária cautela para avaliar como esse estímulo monetário atinge a atividade a inflação. Os cálculos econômicos do BC indicam que cortes de juros levam seis meses para chegar à atividade, e nove meses para impactar a inflação. Assim, boa parte do afrouxamento monetário ocorrido até agora ainda não teve impacto pleno. Ao mesmo tempo que em lida com essas incertezas, porém, o Copom tem-se visto diante de um quadro de inflação sob controle. O mercado projeta para 2007 uma inflação de 4,2%, abaixo do centro da meta, de 4,5%. A projeção do BC para o crescimento econômico deste ano, por outro, foi reduzido de 4% para 3,5%. Analistas de mercado esperam expansão de 3%.

O presidente da Acrefi, Érico Quirino Ferreira, acredita que a confirmação da redução dos índices de inadimplência no terceiro trimestre aumentará o percentual de repasse da redução nas taxas de juros básicas para o custo do crédito. "Desde o início da trajetória de redução de juros, a inadimplência teve um pico e agora está recuando", diz. Ferreira acredita que a redução de 0,5 ponto era esperada e portanto já estava embutida nas taxas dos contratos futuros, usados para determinar o custo de operações de crédito. "Uma redução de um ponto ou 0,75 talvez não estivesse refletida nos contratos da BM&F e poderia provocar mudança maior nas taxas para o consumidor", segundo o presidente da Acrefi. Por isso, Ferreira não espera alterações em custos de linhas nesta semana.

A nova queda da taxa básica, embora "bem-vinda", não é suficiente para que empresas privadas desengavetem grandes projetos de investimentos, no entender de Paulo Godoy, presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib). Para isso, serão necessárias mais três ou quatro.

Para o economista-chefe da Concórdia Corretora, Elson Teles, o espaço para nova redução de 0,50 na taxa Selic, não obstante a sinalização dada na última ata, de que o Copom poderia exercer maior grau de parcimônia, surgiu em função da melhora no cenário prospectivo para a inflação ocorrida desde a reunião de agosto.