Título: Tensão ameaça afetar comércio entre China e Japão
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Fonte: Valor Econômico, 19/09/2012, Internacional, p. A15

Os protestos contra o Japão prosseguiram ontem na China e, pelo segundo dia, várias empresas japonesas ficaram fechadas para evitar depredações. Os atritos já despertam o temor de consequências de longo prazo nas relações comerciais entre os dois países, que mantêm um intercâmbio em torno de US$ 345 bilhões por ano.

Milhares de chineses protestaram diante da Embaixada do Japão em Pequim ontem, pedindo o boicote de produtos japoneses e exigindo o controle das ilhas cuja soberania é disputada (leia texto ao lado). "Acabem com todos os cães japoneses", dizia uma das faixas exibidas. Houve ainda manifestações em dezenas de cidades.

A guarda costeira do Japão disse que três embarcações de patrulha chinesas, além de outras sete, entraram brevemente em águas territoriais reivindicadas por Tóquio. Segundo relatos da mídia dos dois países, uma flotilha de aproximadamente mil barcos pesqueiros está se dirigindo para a região.

"Se as coisas continuarem a se deteriorar, o que é uma possibilidade, os danos poderão se tornar sérios, a recuperação poderá levar um ano ou mais, e o comércio poderá se retrair", disse Edwin Merner, presidente da Atlantis Investment Research, em Tóquio, que administra cerca de US$ 300 milhões em ativos.

Em 2011, a China foi o maior mercado para as exportações japonesas, enquanto o Japão foi o quarto maior comprador de produtos chineses. As vendas chinesas somaram US$ 148,3 bilhões (alta de 10% em relação a 2010) e as japonesas, US$ 194,6 bilhões, alta de 22%), segundo dados da China.

O investimento direto de empresas japonesas na China teve uma alta de 19,1%, para US$ 4,73 bilhões, nos primeiros sete meses deste ano, de acordo com o Ministério do Comércio chinês. Já o investimento direto chinês no Japão quadruplicou em 2010 - o último ano em que há dados disponíveis -, atingindo US$ 338 milhões.

"As relações sino-japonesas são frequentemente descritas como quentes no comércio e frias na política, mas agora até mesmo o comércio está esfriando", afirmou Zhang Jifeng, pesquisador do Instituto de Estudos Japoneses da Academia Chinesa de Ciências Sociais. "É difícil dizer qual lado sofrerá mais com a retração do comércio, mas certamente o impacto será profundo para ambos."