Título: Inflação está controlada e juro baixo continua, diz Mantega
Autor: Fernandes , Daniela
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2012, Brasil, p. A3

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse ontem, em Paris, que não vê o processo inflacionário no Brasil com preocupação tanto em 2012 quanto em 2013. "A inflação segue dentro da meta e vai continuar", afirmou ele, durante entrevista na embaixada brasileira, após encontro com empresários de grandes grupos franceses. Por isso, disse o ministro, a política de juros baixos vai prosseguir.

Mantega explicou que, diante de medidas tomadas pelo governo, como a redução do preço da energia elétrica para consumidores residenciais e industriais e o corte da alíquota do IPI para bens duráveis, a expectativa é que a inflação se mantenha comportada. "A tendência é que a inflação seja mais benigna e não se eleve. Não será preocupante no próximo ano."

Durante a entrevista, Manteiga disse que o governo brasileiro vai dar passos concretos em relação à desindexação da economia. "Quando terminarem os contratos de energia elétrica, deveremos modificar a indexação desse setor, que é importante", disse Mantega, sem dar maiores detalhes. Afirmou que o governo já vem agindo em direção à desindexação e deu como exemplo a redução do peso da Letra Financeira do Tesouro (LFT) no conjunto da dívida pública brasileira. (ver reportagem ao lado)

O ministro reiterou que a economia brasileira crescerá 4% em 2013. Ele reconheceu que a elevação do crédito, uma das bases do processo de expansão da economia, segue em ritmo mais lento, mas "a economia continuará se expandindo". O ministro estimou que o crédito no Brasil deverá crescer entre 14% e 15% em 2012.

Segundo Mantega, o Brasil incluirá mais brasileiros na classe C em 2013, enquanto reduzirá as classes D e E - movimento que promoverá a expansão do mercado consumidor. "Devemos incluir mais 30 milhões de brasileiros na classe C no próximo ano. Haverá também aumento das classes A e B e diminuição das classes D e E. O Brasil será, em 2020, o quinto maior mercado de consumo do mundo, alimentado por emprego, mobilidade social e crédito", disse.

Mantega está em Paris desde o início da semana. Ontem, no encontro com empresários, estiveram presentes executivos de grandes grupos franceses, como Carrefour, Casino, PSA Peugeot Citroën, Sanofi, Alstom (que participa da licitação para o trem-bala entre Campinas, São Paulo e Rio de Janeiro), Accor, BNP Paribas e Total, entre outros. No total, 14 empresários de multinacionais francesas participaram do encontro, que foi realizado na embaixada brasileira.

Aos empresários franceses, Mantega insistiu que o Brasil não enfrenta problemas com a inflação, e que a política de juros baixos do governo segue em pauta. A apresentação feita por ele está disponível no site do ministério e traz uma série de dados que o ministro foi "vender" aos franceses.

A apresentação começa com a seguinte frase: "A economia mundial continua em uma crise profunda, enquanto o crescimento retoma no Brasil". Entre os tópicos chama atenção a avaliação de que a crise de 2012 é tão prejudicial quanto a de 2008. Na sequência, o ministro apresentou as projeções de crescimento para 2013, mas usa dados do Fundo Monetário Internacional (FMI). A linha de corte é crescimento de 3%, acima disso estão Brasil (4,2%), Argentina (4%), China (8,8%) e outros. Pintados de vermelho estão países do mundo desenvolvido. Estados Unidos (2,4%) e toda a zona do euro, com contração de 1,9% para Itália e alta de 1,5% para Alemanha.

Mantega participará, hoje, em Londres, de um evento promovido pela revista britânica "The Economist", sobre os mercados que mais crescem no mundo. Ele afirmou ontem que serão necessários de dois a três anos para que a Europa comece a sair da crise. Segundo ele, os países emergentes terão que se preparar para enfrentar tal situação.

"Não podemos contar com a recuperação do mercado europeu no curto prazo. Esse mercado vai ficar estagnado nos próximos anos", disse a jornalistas europeus na capital francesa. "Enquanto houver risco de quebra de países e de bancos, as economias europeias vão ficar travadas", afirmou. (Colaborou Eduardo Campos, de Brasília)