Título: ISA prepara-se para direito de tag along dos minoritários da CTEEP
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2006, Empresas, p. B1

A ISA Capital do Brasil, que pertence à colombiana ISA e que controla a Cia. de Transmissão de Energia Elétrica Paulista (CTEEP), está se preparando para ir ao mercado de capitais. Depois de pagar US$ 535 milhões por 50,1% das ações ordinárias que o governo paulista detinha na CTEEP, o que lhe deu o controle e 21% do capital total, a subsidiária brasileira do grupo colombiano agora se arma para o direito de "tag along" que os acionistas minoritários poderão exercer em breve. Em caso de adesão total, isso geraria um custo adicional de US$ 432 milhões ao valor pago pela empresa de transmissão.

Em outras palavras, significa que a aquisição da CTEEP poderia alcançar valor total de US$ 967 milhões. Isso só aconteceria caso os funcionários da CTEEP, que detém 14,4% das ordinárias, a União, que possui outros 15%, e a Eletrobrás (10%) vendessem todos seus papéis à ISA Capital do Brasil por 80% do valor pago pelo lote de mil ações do bloco de controle.

Esse percentual é definido no direito de "tag along", que garante ao acionista minoritário receber parte ou total do valor pago ao controlador no caso de venda da empresa. Como a ISA Capital do Brasil pagou R$ 38,09 pelo lote de mil ações ordinárias do governo paulista, logo esse direito dos minoritários corresponde a R$ 30,4.

"Há também a possibilidade de os minoritários permanecerem conosco, o que seria bom, porque mostrariam que confiam na nossa gestão", afirma Javier Gutiérrez, gerente-geral da ISA na Colômbia. A expectativa, relata o executivo, é que a adesão aconteça no início do próximo ano.

Para o analista de energia do banco Brascan, Felipe Cunha, a tendência é que os minoritários vendam os papéis. "Como eles desembolsaram um valor alto pela companhia, o preço das ações ordinárias está em um patamar elevado. Mas esse valor, depois que terminar o prazo de oferta, não se sustentará por muito tempo", avalia Cunha.

Contudo, Gutiérrez deixa claro que, independentemente do nível de adesão, o grupo colombiano não tem intenção em fechar o capital da CTEEP. Atualmente, a empresa tem ao redor de 10% de seus papéis no mercado.

Os US$ 535 milhões pagos ao governo paulista, segundo explica o gerente-geral da ISA, foram obtidos por meio de um financiamento de US$ 550 milhões. Divididos em duas parcelas, o empréstimo mistura vencimento de curto prazo e de médio prazo. Sendo assim, a parcela de US$ 320 milhões tem que ser paga em seis meses, ou seja, logo no início do ano que vem. Os US$ 230 milhões vencerão em três anos.

"Caso todos os minoritários vendam seus papéis, nós deveremos usar uma engenharia financeira semelhante à empregada na compra da CTEEP", diz Gutiérrez.

O fato é que a colombiana ISA pagou um ágio elevado, algo como 58%, para ficar com a CTEEP. Movimento esse que na prática dobrou o tamanho do grupo colombiano. Com a aquisição, soma-se aos 16,8 mil quilômetros de linhas de transmissão e ao seu faturamento de US$ 471 milhões, os cerca de US$ 500 milhões de receita e os 18,2 mil quilômetros de linhas da companhia de transmissão paulista.

Javier Gutiérrez explica que o grupo não poderia perder a chance de colocar um pé no mercado brasileiro. "O nosso negócio é transmissão de energia e não é todo dia que aparece uma oportunidade dessa no mercado", afirma o executivo, que descarta investir em geração ou distribuição do insumo.

O gerente-geral diz, inclusive, que não há mudança à vista no cotidiano da empresa. Tanto que já foi definido o presidente da ISA do Brasil, Fernando Rojas, e o presidente da CTEEP, José Colombo Martini. Os investimentos anuais de R$ 400 milhões também estão mantidos.