Título: Para Coutinho, país precisa zelar por real menos apreciado
Autor: Martins , Diogo
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2012, Brasil, p. A3
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Luciano Coutinho, defendeu ontem a manutenção do real desvalorizado nos níveis atuais a fim de ajudar a estimular a economia brasileira. "Precisamos zelar pela manutenção de um câmbio menos apreciado", disse durante a abertura do Fórum Nacional - Sessão Especial, do Instituto Nacional de Altos Estudos (Inae), na sede do banco. José Roberto Mendonça de Barros, da MB Associados, convidado do evento, fez críticas à forma como o governo conduz o processo de redução das tarifas de energia. E Marcelo Neri, presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), afirmou que "o Brasil precisa de ações voltadas para as pequenas empresas".
Coutinho, que fez palestra no painel "Competitividade da indústria e aumento dos investimentos" aponta o câmbio como um dos principais instrumentos para garantir a competitividade da indústria brasileira. A manifestação de Coutinho a favor do real desvalorizado ocorre na esteira das intervenções do Banco Central depois das medidas de afrouxamento monetário que vêm sendo baixadas pelo Fed (Banco Central americano), nos Estados Unidos. "Acho que não é saudável descontar na competitividade do Brasil as distorções criadas fora do país. Numa visão de médio e longo prazo, devemos priorizar o nosso desenvolvimento", disse.
Mesmo que ocorra uma valorização das commodities em função da decisão do Fed, algo que o presidente do BNDES considera "incerto", para ele o Brasil tem condições de enfrentar essa situação com aumento de produtividade e câmbio menos apreciado.
Coutinho fez considerações também sobre o crédito. "A redução dos juros provocará uma mudança na capacidade de crédito do país. Vai ainda acelerar o sistema positivamente, criar a oportunidade de transformar a poupança em crédito e também transformar o mercado de capitais". Para ele, o país precisa manter "bases sustentáveis de crescimento", disse, referindo-se a uma taxa Selic em níveis baixos e um real menos apreciado em relação ao dólar.
O presidente do BNDES elogiou as medidas recentes tomadas pelo governo para reativar a economia, como a redução das tarifas de energia, o programa de concessões em logística e o anúncio de novos leilões de blocos de petróleo pela Agência Nacional do Petróleo (ANP).
Já o economista José Roberto Mendonça de Barros, que falou no painel "Visão de Brasil/superação da crise e criação de oportunidades", criticou a forma como o governo conduz o processo de redução das tarifas de energia elétrica. "O modelo cria instabilidade e incerteza jurídica. A impressão que dá é que o Brasil está mais comprometido em derrubar a inflação do que com outras coisas", disse Mendonça, referindo ao efeito imediato que a redução das tarifas terá nos índices de preço ao consumidor.
Mendonça de Barros afirmou que "faltou transparência" nas intenções do governo em negociar a prorrogação das concessões nas áreas de geração, transmissão e distribuição. Ele criticou ainda o prazo de 30 dias que o governo deu às empresas para se manifestarem sobre os novos termos do modelo de concessão. "Foi uma coisa feita de forma atropelada. Isto pode levar insegurança jurídica aos investidores privados e externos."
Marcelo Neri, participante do painel "Brasil, país de classe média", afirmou que "o país precisa de agenda política voltada para os pequenos produtores". Segundo ele, o país tem programas para grandes empresas, mas é preciso aumentar o foco nas pequenas. "Precisamos trazer inovação desde baixo. A agenda do país para as empresas é boa, mas não está completa." Sobre as grandes empresas, disse que elas têm um papel importante na criação de empregos. "O Brasil é país de grandes produtores, de grandes empresas, que estão ajudando a reduzir as desigualdades, com aumento da renda e do emprego", afirmou.