Título: Cresce a concorrência pelo PC popular
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 19/10/2006, Empresas, p. B3

Os consumidores da classe D entraram de vez na rota dos principais fabricantes de computadores, o que tem levado empresas do setor a buscar não apenas linhas de financiamento com juros baixos, mas também tecnologias que permitam reduzir ainda mais o preço das máquinas, sem afetar suas funcionalidades básicas.

É o caso da Amazon PC, fabricante da Zona Franca de Manaus que, nos próximos dias, vai colocar no mercado um computador de R$ 599,00, resultado de um projeto fechado com a Via Technologies, empresa de Taiwan que trará da Ásia os componentes para montagem das placas do computador. "Até hoje o desejo dos fabricantes era ter uma máquina a R$ 999. O mercado chegou a isso, só que não é o suficiente", afirma o diretor da Amazon PC, Carlos Diniz.

A máquina da Amazon PC tem sua configuração baseada em sistema operacional Linux, 128 Mbytes de memória, disco rígido de 40 Gbites, gravador de CD, processador da Via Technologies, teclado e mouse. "Isso é tudo o que uma máquina comum precisa ter", comenta Diniz, acrescentando que, se incluir o monitor, o preço para o usuário final será de R$ 849,00. No momento, a empresa negocia com redes de varejo para que o produto chegue ao mercado com juros em torno de 1,99% ou abaixo disso. "Agora temos algo mais acessível, que realmente vai atender à classe D, com parcelas mensais em torno de R$ 40,00", comenta Diniz.

A iniciativa da fabricante brasileira amplia a disputa em um setor industrial que já vem passando por forte queda de preço. Nos últimos doze meses, a isenção de impostos como PIS e Cofins atrelados à "MP do Bem", além da estabilidade do dólar, ajudaram a derrubar o preço do computador em aproximadamente 17%. Com a inclusão do micro na lista de compras das classes menos favorecidas, o mercado brasileiro de PCs movimentou 3,6 milhões de unidades no primeiro semestre, volume 43% superior àquele registrado no mesmo período de 2005, segundo a consultoria IT Data. Foi essa busca pela informatização, aliás, o que puxou o índice da produção industrial brasileira de agosto. O crescimento na área de máquinas para escritório e equipamentos de informática foi de 41,4% no período, segundo relatório do IBGE.

Acontece que, para a maioria dos fabricantes de PCs, a queda no preço das máquinas já está próxima de seu limite, dada a estreita margem de lucro - cerca de 5% em computadores de mesa e 10% em notebooks - que estes produtos oferecem. Não por acaso, o retorno baixo foi uma das principais razões que levaram a IBM a abrir mão de sua divisão de PCs, vendendo a unidade para a Lenovo. Mas companhia chinesa quer provar que também fez um bom negócio.

Dezoito meses após a transação, a Lenovo começa a se aproximar das classes mais populares para, como seus concorrentes, ganhar em escala. No início deste ano, comenta o diretor de vendas para pequenas e médias empresas, Nelson Scarpin, a empresa lançou modelos de máquinas a R$ 859, sem o monitor. "No último mês fizemos uma promoção na qual, pelo mesmo valor, o consumidor levava uma impressora grátis", diz.

Quem também entrou na guerra dos preço foi a CCE, oferecendo máquinas em torno de R$ 1 mil. Mas para o gerente de marketing e novos negócios da área de informática da companhia, Gilberto Marangão, basear-se apenas no fator preço para vender computadores é uma estratégia equivocada. "Qualquer iniciativa para reduzir custos é interessante, mas hoje o consumidor está mais maduro", alega Marangão. "Há recursos nessa área que ninguém mais abre mão", comenta o executivo.

Na defensiva, o diretor da Amazon PC afirma que não há nada que desabone seu projeto. A única diferença do computador, explica Carlos Diniz, estará no tamanho do gabinete, praticamente a metade do que é tradicionalmente usado. "Vamos fabricar uma estrutura menor, porque a placa é pequena e não precisa de uma carcaça grande", explica. "O importante é que a máquina permite que o usuário execute qualquer função, inclusive instale o Windows [sistema operacional da Microsoft], se quiser."

Entre as gigantes do setor, a HP é hoje a mais tímida quando de trata de produtos abaixo de R$ 1 mil, o que já não acontece com a Dell, que tem oferecido máquinas a partir de R$ 849,00, sem o monitor. "Estamos acompanhando tudo de perto. É uma de nossas prioridades", diz a gerente de produtos da Dell, Karla Wagner. Uma estratégia agressiva para a classe D também é esperada por parte da Positivo Informática, que lidera o mercado nacional. Procurada, a empresa não quis se pronunciar, alegando que o fato de estar em processo de abertura de capital a impede de fazer comentários.

Em jogo está um mercado que, segundo analistas, deve comprar 8,5 milhões de máquinas em 2007. Neste ano serão cerca de 6,5 milhões de unidades, número que só não será maior porque, segundo o consultor da IT Data, Ivair Rodrigues, faltou programação dos fabricantes para comprar placas, memórias e, principalmente, monitores. A atual movimentação, no entanto, indica que falta de peças não será o problema para o setor.