Título: Haddad ataca Serra, que ataca Russomanno, que não ataca ninguém
Autor: Casado , Letícia
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2012, Política, p. A8

O candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad, subiu o tom de seu discurso contra o adversário do PSDB, José Serra, com quem está tecnicamente empatado em segundo lugar na corrida eleitoral segundo pesquisa Ibope divulgada na semana passada. "O Serra é uma figura triste da política brasileira", disse o petista. "É uma pessoa que só traz o mal para a cidade de São Paulo", afirmou Haddad.

"É uma pessoa que tem muita dificuldade de relacionamento humano, que a todo momento alguém precisa dizer que ele é sensível, que ele chora às vezes, tamanha a falta de humanidade dessa pessoa", afirmou, acrescentando que Serra está "terminando sua carreira de forma melancólica".

O candidato do PT disse não assistir aos programas de TV de Serra "porque dá tédio, dá sono". O petista, no entanto, criticou o vídeo da campanha de Serra que o associa a petistas que são réus no processo do mensalão. Para Haddad, é "degradante" a maneira como Serra "trata a política e a confusão que ele promove na cabeça do eleitor".

O petista defendeu as participações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, da presidente Dilma Rousseff e da agora ministra da Cultura, Marta Suplicy, em sua campanha. O PSDB tem criticado a nomeação de Marta por entender que foi uma "troca de favores" depois de a petista ter participado de eventos de campanha de Haddad e ter gravado vídeos pedindo votos ao petista.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva viaja hoje para o México em meio a especulações de que a campanha petista passa por mudanças.

"Não questionei quando Serra trouxe o Fernando Henrique Cardoso. Se ele quiser trazer o [prefeito Gilberto] Kassab, que ele esconde, ele pode", disse o petista, em entrevista a jornalistas, depois de visitar a favela de Jardim Peri Alto, na zona norte da capital paulista. No local, reuniu-se com líderes comunitários e simpatizantes do PT.

Ao visitar a favela disse que, caso eleito, vai construir moradia para 55 mil famílias. Os projetos serão feitos em parceria com o programa do governo federal "Minha Casa, Minha Vida. "O Serra tem dito que não é possível usar o Minha Casa, Minha Vida em São Paulo, mas é sim".

Um dia antes, Serra, em entrevista ao "SPTV", da Rede Globo, disse que o valor dos terrenos na capital paulista é muito alto e que, por isso, seria difícil implementar o programa federal.

O petista disse que, além de urbanizar favelas, vai verticalizar alguns locais, seguindo o modelo do "Minha Casa, Minha Vida". "O drama de moradia em São Paulo ficou feio. Nunca teve tão pouca produção de moradia na cidade", criticou Haddad.

José Serra, por sua vez, partiu para o ataque à campanha de Celso Russomanno (PRB), líder nas pesquisas de intenção de voto. O tucano disse ver risco de o sistema público de saúde da cidade "entrar em colapso" e citou nominalmente o candidato do PRB. "Os outros candidatos, inclusive o Russomanno, estão muito por fora na questão da saúde, sequer têm ideia do que acontece ou das coisas disponíveis. Com frequência propõe coisas que já existem ou são inteiramente irrealistas", disse Serra, sem dar exemplos na área da saúde.

O candidato do PSDB afirmou ontem que "fala-se muita bobagem a respeito de defesa do consumidor", referindo-se indiretamente a Russomanno, que costuma de apresentar como "defensor do consumidor". "O que funciona de verdade é o Procon estadual, que funcionou até no caso do acidente do avião da TAM", disse o tucano, que tomou para si a responsabilidade pelo serviço. "Fui eu que organizei [o Procon] tal como é hoje, na época em que fui secretário [de Planejamento] do [Franco] Montoro [1983 a 1986]", afirmou.

O tucano caminhou pelo comércio da Penha, bairro da zona leste paulistana, e tentou entrar em uma Unidade Básica de Saúde (UBS), mas desistiu para não causar tumulto. No local, eleitores se aproximaram do candidato para reclamar da falta de medicamentos, um exame perdido e demora no atendimento. Serra, que também ouviu elogios por programas feitos quando foi ministro da Saúde, prefeito e governador de São Paulo, prometeu resolver os problemas com a contratação de mais três mil médicos e a construção de três novos hospitais, além dos três prometidos pelo prefeito Gilberto Kassab (PSD) e que não serão entregues.

Russomanno, por sua vez, evitou o confronto direto com Serra. "Eu sei o que estou falando", disse. "Ninguém vem me dizer como fazer. Eu estudei saúde profundamente quando fui deputado", afirmou, depois de comprometer-se com Programa Cidades Sustentáveis e a transparência na gestão, em evento da ONG Rede Nossa São Paulo e o Instituto Ethos.

Em meio a promessas, o candidato do PRB disse que "resolverá em 120 dias" os problemas na área da saúde e afirmou que os médicos da rede pública terão salário de R$ 20 mil por mês. Para a educação, o candidato afirmou que construirá 30 Centros Educacionais Unificados (CEUs), com o custo estimado de R$ 28 milhões cada.

A taxistas, Russomanno disse que "os taxis serão subsidiados como são os ônibus" e que fará um programa de "compartilhamento de taxis". Os veículos funcionarão como uma espécie de "lotação" e os passageiros poderão dividir uma corrida de taxi.

Russomanno afirmou que "está sendo atacado" no embate entre a Igreja Católica e a Igreja Universal do Reino de Deus, à qual seu partido é ligado. Russomanno não irá ao debate promovido pela Arquidiocese de São Paulo hoje com postulantes à prefeitura.

O candidato afirmou que só iria ao debate se fosse recebido antes pelo cardeal arcebispo dom Odilo Scherer. O religioso, no entanto, disse que estava com a agenda "sobrecarregada". "Está nas mãos dele [dom Odilo], disse ontem.

Em nota divulgada ontem, a Arquidiocese de São Paulo na qual disse "lamentar" o fato de Russomanno ter vinculado sua participação no debate a uma conversa com o arcebispo. "A solicitação da audiência para o candidato do PRB, para tratar de assunto específico, está sendo analisada e poderá ser atendida em momento oportuno", afirma a arquidocese na nota.