Título: 2013 será ano difícil para a economia americana
Autor: Mitchell , Josh
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2012, Internacional, p. A14

Seja Barack Obama ou Mitt Romney, alguém terá o azar de governar no ano que vem uma economia americana muito parecida com a de hoje: baixo crescimento, desemprego persistentemente alto e endividamento elevado. Dependendo do que ocorrer com o "abismo fiscal", há o risco de os EUA entrarem em recessão. Só a ameaça de alta de impostos e corte de gastos de US$ 600 bilhões já está retardando investimentos das empresas. Mas, mesmo se o Congresso chegar a um acordo e o pior do abismo fiscal for adiado, 2013 se configura como um ano difícil.

Grandes forças econômicas, tanto internas como externas, estão se juntando para inibir o crescimento. Fundamentos econômicos, como o fator demográfico e as finanças das famílias, que ajudaram a impulsionar recuperações passadas, estão agora desacelerando as coisas. Essas tendências não são muito afetadas pela política econômica. Por isso, corrigi-las estará fora do alcance imediato do governo. "Independentemente de quem ganhar as eleições, do ponto de vista econômico 2013 será um ano extremamente difícil", diz David Rosenberg, economista-chefe da Gluskin Sheff + Associates.

Com o desaquecimento da economia, esfriaram também as previsões dos economistas. A média das estimativas de 79 deles consultados pela Bloomberg é que o PIB dos EUA crescerá 2,1% em 2013, abaixo do 2,5% previstos em maio.

O abismo fiscal é a maior das ameaças: a combinação de cortes profundos dos gastos e alta de impostos a ser adotada em janeiro pode ceifar até 4 pontos do crescimento do PIB em 2013. Para piorar a situação, a economia mundial está enfraquecendo, principalmente na China e na União Europeia (UE), dois dos maiores mercados de exportação dos EUA.

Em julho as exportações americanas tiveram sua maior queda desde abril, puxando o déficit comercial de manufaturados para o valor recorde de US$ 63,9 bilhões. Em agosto, as fábricas do país eliminaram 15 mil vagas, a maior queda nos últimos dois anos. "A situação da UE freou as exportações mais do que no início do terceiro trimestre", diz Joe LaVorgna, economista-chefe para os EUA do Deutsche Bank. Ele prevê que o crescimento da economia americana em 2013 deverá ficar "em torno dos 2%, em vez do número mágico de 3% que esperávamos". A desaceleração da demanda industrial repercutirá por toda a economia, acabando por comprometer a produção, o nível de emprego e, finalmente, o gasto do consumidor. "Num ambiente anêmico como esse, há o potencial de o crescimento do nível de emprego do ano que vem se reduzir a zero", diz Jacob Oubina, economista-sênior para os EUA da RBC Capital Markets.

Uma comparação com a profunda recessão do início da década de 80 põe em destaque as dificuldades a serem enfrentadas por Obama ou Romney. No fim do primeiro ano do mandato de Ronald Reagan, que governou de 1981 a 89, a economia americana encolheu à taxa anual de quase 5%. No fim de seu segundo ano, o desemprego alcançara 10,6%. Mas, no terceiro trimestre de 1983, o PIB do país cresceu à taxa anual de 9,3%. A economia conseguiu sair da recessão graças a algumas vantagens estruturais com as quais um presidente dos EUA não pode mais contar. No início dos anos 80, a relação endividamento das famílias sobre o PIB era de cerca de 50%; hoje, é de quase 90%. Os americanos poupavam aproximadamente 10% de sua renda, contra os 4,2% em julho de 2012. "Quando se tem um excesso de alavancagem, com endividamento, e uma taxa baixa de poupança, é como estar com um sistema imunológico fraco", diz Carmen Reinhart, economista da Faculdade de Governo John F. Kennedy de Harvard e coautora do livro "This Time Is Different" (desta vez é diferente), que argumenta que recuperar-se de uma crise financeira como a de 2008 leva muito mais tempo do que sair de uma recessão induzida pela inflação. "Tínhamos muito mais capacidade de absorver choques econômicos em 1982 do que temos hoje", diz Carmen.

As mudanças demográficas só vêm piorar essa situação. No início da década de 80, a geração do pós-guerra tinha, em média, 25 anos; atualmente, tem 55. Em 30 anos, os EUA migraram da situação de ter a população ativa mais jovem já registrada, com uma média de idade de 35 anos, para contar com a população ativa mais velha, com média de idade de 42 anos. Trabalhadores mais jovens custam menos, são mais flexíveis e formam famílias, estimulando os gastos do consumidor. "Não é que a recuperação seja anômala, é que o fator demográfico se virou contra nós", diz James Paulsen, estrategista-chefe de investimentos da Wells Capital Management.

A situação monetária atual também está mais difícil. Em 1982, depois que Paul Volcker, o presidente do Fed (o BC dos EUA) na época, controlou a inflação e desaqueceu a demanda com taxas de juros altas, houve muito espaço para baixar as taxas de juros quando a economia deslanchou. O atual presidente do Fed, Ben Bernanke, tem muito menos espaço de manobra depois de reduzir o mais que pôde as taxas de juros para impulsionar a demanda e se defender da deflação. "Fica patente que matar a inflação é tarefa muito mais simples do que reprimir as pressões deflacionárias", diz Rosenberg.

Seja quem for o próximo presidente, ele não conseguirá mudar a configuração demográfica dos EUA nem impedir a UE e a China de desacelerar. O Congresso continuará dividido, o que torna pouco provável mais medidas de estímulo ou redução de impostos. Nenhuma das duas campanhas possui uma estratégia de crescimento convincente, embora ambas digam estar comprometidas com a redução do déficit público americano. No melhor dos casos, um pesado ataque ao déficit poderá convencer os investidores privados a apostar no futuro dos EUA e aumentar gastos e investimentos. Mas o efeito mais provável da redução do déficit, por meio de corte de gastos e alta de impostos, será frear ainda mais o crescimento.