Título: Renda média caiu em 18 Estados dos EUA em 2011
Autor: Mitchell , Josh
Fonte: Valor Econômico, 20/09/2012, Internacional, p. A14

A renda média das famílias nos EUA caiu ou ficou estagnada em quase todos os Estados no ano passado, sendo mais acentuada a queda nos locais mais atingidos pelo estouro da bolha imobiliária.

A mediana da renda anual das famílias (o ponto na escala de renda em relação ao qual metade ganha mais e metade ganha menos) caiu em 18 Estados em 2011 em relação a 2010, já computada a inflação, segundo dado do Censo americano a ser divulgado hoje.

A maior queda ocorreu no Estado de Nevada, onde a mediana recuou 6%. A queda foi de 3,8% na Califórnia e 2,9% no Arizona e na Flórida. Os quatro Estados estão entre os que tiveram a maior queda no valor de imóveis e na atividade de construção civil desde o início da crise. Também neles a população ainda pena com a pesada dívida e o alto desemprego resultantes.

No país como um todo, a mediana da renda caiu 1,3% em 2011, para US$ 50.502 por ano. Um outro dado, da semana passada, mostrou uma mediana um pouco diferente, mas sempre num nível que não se via desde meados dos anos 90, em continuidade a um longo período de estagnação ou queda de salários desde a máxima da série histórica registrada em 1999.

O boletim da semana passada focava a situação nacional da renda e da pobreza. O de hoje dá detalhes sobre o estado da recuperação nos planos estadual e municipal.

O documento mostra que, embora 2011 tenha sido o segundo ano completo de recuperação, a pobreza continuou a crescer em muitas regiões. No ano passado, um total estimado de 335.760 pessoas entrou na faixa da pobreza só na Califórnia, elevando a taxa de pobreza do Estado para 16,6%.

"São os Estados que mais cresceram [no boom], o que significa que o tombo agora é maior", disse Rakesh Kochhar, economista do instituto Pew Research Center. Essas regiões ainda sofrem com as sequelas da crise, que deixou tamanho excesso de moradias no mercado que o valor de imóveis desabou, disse Kochhar. Com a queda resultante no patrimônio, muitas famílias cortaram gastos, o que abala o comércio. Empresas, por sua vez, têm adiado contratações.

Com a escassez de empregos, muitos americanos já aceitam trabalhar por um salário menor. Donna Durham, de Lakeland, na Flórida, é uma delas. Aos 57 anos, ela ganha US$ 2 por hora a menos do que ganhava antes da recessão, quando trabalhava em tempo integral como operadora de máquinas numa fábrica de bordados. Demitida em meio à crise, já alternou três empregos de meio período e hoje ganha cerca de US$ 1.700 por mês antes de impostos. Mal dá para pagar as contas. "Trabalho o tempo todo, faço bicos, o que aparece eu pego", diz Durham.

Ela obteve um diploma de escola técnica em 2009 na esperança de achar um emprego fazendo plantas de arquitetura usando software especializado. Só que essas vagas foram ocupadas por engenheiros demitidos, que também aceitavam salários menores, disse Durham.

Em Lakeland e Winter Haven, região no meio da Flórida, a renda mediana caiu 5% em 2011, para US$ 40.272 ao ano. Foi a maior queda entre as regiões metropolitanas de grande porte no Estado.

O informe do Censo é parte de um levantamento maior, o American Community Survey, relatório anual que traz ampla variedade de dados demográficos, sociais, econômicos e de moradia. A pesquisa faz uma amostragem de mais de 3,3 milhões de domicílios por ano.

O mediana da renda caiu em 18 Estados no ano passado, em comparação com 35 Estados que viram a renda diminuir em 2010. O Estado de Maryland teve a maior mediana: US$ 70.004 ao ano. Já Mississippi teve a menor: US$ 36.919.

Um caso à parte foi Vermont, o único Estado americano a registrar aumento estatisticamente expressivo na mediana. A renda da família típica subiu 4%, para US$ 52.776 ao ano, mostram os dados do Censo; no Estado, a pobreza caiu.

Para Arte Woolf, economista da Universidade de Vermont, a população pequena do Estado (626.000 habitantes) cria essa propensão para oscilações atípicas nos dados.

Woolf disse, porém, que os dados do Censo sobre renda batem com um aumento correspondente na arrecadação de impostos no Estado. Segundo ele, a taxa de natalidade de Vermont sempre foi baixa, e o trabalhador mais jovem está migrando para regiões com clima mais ameno e população maior. Isso deixou um estoque relativamente pequeno de candidatos para os empregos disponíveis, puxando para o alto os salários, explicou. O desemprego no Estado em julho foi de 5%, um dos mais baixos do país.